O 2º Fórum Mulher no Esporte, promovido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), teve início nesta terça-feira, dia 15, marcado por uma palestra impactante e enriquecedora da ex-jogadora de vôlei e bicampeã olímpica Fabi Alvim. Sob o título “Além do que se vê”, Fabi trouxe uma reflexão profunda sobre as vivências das mulheres no cenário esportivo, explorando desafios, conquistas, e transformações ao longo dos anos. Em sua apresentação, ela procurou ir além das vitórias em quadra para abordar questões estruturais e culturais que ainda limitam a presença feminina no esporte. A própria Fabi iniciou sua fala destacando a necessidade de um desconforto construtivo, um incentivo ao debate, à partilha e à análise crítica das circunstâncias atuais.
Ela compartilhou passagens de sua trajetória pessoal, desde a infância, quando jogava futebol com os meninos na rua e enfrentava a solidão por ser a única menina, até os dias de ouro no vôlei. Essa narrativa pessoal serviu para ilustrar a persistente disparidade entre os gêneros, apoiada por dados que destacam como, globalmente, meninos têm 26% mais chances de se envolverem em atividades esportivas enquanto mulheres são seis vezes mais propensas a desistirem da prática por falta de apoio.
No decorrer de sua carreira, Fabi destacou como foi necessário criar oportunidades em ambientes predominantemente masculinos, contando como conquistava espaço se oferecendo para marcar placares ou substituir alguém nas quadras de vôlei. Relembrando 1992, ano marcante para o vôlei brasileiro com a conquista do ouro masculino, a então jovem jogadora fazia um paralelo direto com o aumento de interesse e referências no vôlei feminino. Mulheres como Mireya Luis e Shelda tornaram-se suas inspirações, confirmando a máxima de que “você precisa ver para ser”, citada por Billie Jean King.
Fabi prosseguiu discutindo a evolução do protagonismo feminino no esporte, enfatizando as contribuições de pioneiras como Hortência e Isabel Salgado. Apesar de avanços notáveis, ela mencionou casos de cobertura desigual da imprensa, comparando manchetes de 2004 que descreditaram a seleção feminina ao compará-la aos homens, com as celebrações mais recentes de 2024, que destacaram o protagonismo feminino nos Jogos Olímpicos de Paris.
Ela trouxe à tona dados alarmantes sobre a sub-representação das mulheres no conteúdo esportivo, que recebe apenas 4% de foco na mídia, com um contexto econômico ainda mais severo: em 2024, nenhuma mulher figurava entre os 100 atletas mais bem pagos do mundo. Ademais, a escassa presença feminina na liderança técnica é preocupante, com mulheres constituindo somente 13% das treinadoras nos Jogos Olímpicos.
A palestra culminou em um momento de celebração da resiliência e da necessidade contínua de buscar equidade no esporte. A apresentação de Fabi foi recebida com aplausos entusiásticos, reafirmando seu lugar entre as grandes mulheres que moldam e inspiram o esporte feminino.
Com informações do Comitê Olimpico do Brasil
Legenda Foto: Fabi Alvim, bicampeã olímpica, abriu o 2º Fórum Mulher no Esporte com a palestra “Além do que se vê”, onde compartilhou suas experiências e incitou reflexões sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte. A ex-jogadora destacou a importância de se discutir as barreiras e a representatividade feminina em uma área ainda dominada por homens. Fotografia por Helena Barreto/COB.