À medida que a América do Sul testemunha uma ascensão da direita em suas arenas políticas, dois nomes destacam-se e as comparações são inevitáveis: Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, e Javier Milei, que está em ascensão na Argentina e com boa chance de se tornar o próximo presidente.

Embora ambos compartilhem certas visões ideológicas, em matéria de conservadorismo, há quem diga que Bolsonaro não “amarra os chinelos” de Milei nos pensamentos mais liberais tradicionais da direita. Vamos explorar estas semelhanças e diferenças.

Semelhanças:

– Economia Liberal: Tanto Bolsonaro quanto Javier defendem uma abordagem mais liberal da economia, com foco em privatizações, redução da intervenção do Estado e liberalização dos mercados.

– Estilo Provocador: Ambos são conhecidos por um estilo retórico contundente e muitas vezes polêmico, que atrai seguidores fervorosos e gera controvérsias.

Diferenças:

– Origens e Trajetória: Enquanto Bolsonaro tem uma carreira longa na política e origens militares, Javier é um economista que ganhou notoriedade por seus livros e aparições na mídia.

– Visão Social: Aqui reside a maior diferença. Bolsonaro é muitas vezes caracterizado como conservador em questões sociais, com posições fortes contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, questões de gênero e direitos indígenas. Milei, embora também tenha visões fortes, se alinha mais com um libertarianismo clássico, que preza pela liberdade individual e menor intervenção do Estado em questões pessoais. Este posicionamento de Milei faz com que ele seja visto por muitos como mais conservador e radical em sua abordagem à liberdade individual em comparação com Bolsonaro.

– Democracia e Instituições: Bolsonaro fez declarações no passado mostrando simpatia por regimes militares. Por outro lado, Milei, embora critique o sistema democrático, defende uma forma de libertarianismo que, por natureza, valoriza a liberdade individual acima de tudo.

Alternância

A ascensão de líderes de direita na América do Sul evidencia a dinâmica alternância de poder no cenário político da região. A trajetória de Milei na Argentina, se confirmada as previsões de vitória, será  interessante de acompanhar, especialmente quando contrastada com o período de Bolsonaro como presidente do Brasil, considerando as distintas particularidades de cada país no momento de suas gestões.

Javier Milei poderá assumir a presidência com a Argentina experimentando alta inflação, dívida externa elevada e desemprego crescente. O desafio para o economista libertário é implementar políticas que estimulem o crescimento econômico, controlem a inflação e aumentem a confiança dos investidores no país.

Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil em 2019, ele também enfrentou desafios econômicos, que se diga nem de longe tão complicados como os da Argentina, mas logo foi surpreendido pela pandemia da COVID-19 em 2020. Esta crise de saúde global exacerbou os problemas econômicos, pressionou o sistema de saúde brasileiro e gerou debates sobre políticas de saúde e medidas de isolamento.

Ambos os líderes são conhecidos por suas retóricas fortes e visões econômicas liberais. No entanto, enquanto Bolsonaro teve que equilibrar a necessidade de reformas econômicas com a gestão da pandemia, Javier terá o foco primordialmente na economia e na reestruturação fiscal. O desafio de Javier será implementar rapidamente suas políticas libertárias sem alienar segmentos da população ou provocar instabilidade.

Olhando para o Futuro:

A trajetória de Milei será observada de perto, tanto na Argentina quanto internacionalmente. Assim como Bolsonaro teve que adaptar sua abordagem diante de desafios imprevistos, Javier pode encontrar obstáculos não antecipados. A América do Sul continua a ser um palco de experimentos políticos e econômicos, e os líderes da região, sem dúvida, continuarão a enfrentar desafios imprevisíveis em seus mandatos.