Em uma reunião realizada pela Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados, o Ministério da Saúde apresentou dados alarmantes sobre o tratamento de HIV/Aids no Brasil. Em 2023, cerca de 72.320 pessoas, correspondendo a 8% do total de 904 mil diagnosticadas com a doença, não procuraram o tratamento necessário para a redução da carga viral. Artur Kalichman, representante do Ministério da Saúde, ressaltou o esforço contínuo do governo na busca por políticas eficazes para resolver essa questão complexa e preocupante.
No entanto, a problemática não termina aí. Há ainda um outro grupo significativo de 16% de pacientes que iniciam o tratamento, mas descontinuam o processo, agravando ainda mais o cenário de saúde pública. Segundo Kalichman, a situação é particularmente grave entre a população transgênero, com apenas 15% mantendo um tratamento regular.
A Unaids Brasil tem uma meta ambiciosa para 2030: garantir que 95% das pessoas com HIV/Aids estejam diagnosticadas, sob tratamento e com a carga viral indetectável. No entanto, o Brasil atualmente atinge apenas uma dessas metas. Embora 90% das pessoas com HIV estejam diagnosticadas e 81% em tratamento, somente a última meta de carga viral indetectável tem sido alcançada.
Ariadne Ribeiro, representando a Unaids Brasil, abordou a profunda discriminação que ainda ronda profissionais do sexo e a comunidade LGBTQIA+. Ela destacou a necessidade de mais informação e educação sobre tratamentos preventivos e emergenciais, especialmente entre as populações negras e jovens.
Veriano Terto Jr., vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, apontou o dedo para um problema ainda mais arraigado: o estigma. Segundo ele, a sociedade continua a perpetuar a visão de que indivíduos soropositivos têm uma “sexualidade desenfreada” e irresponsável, estigmatizando-os como vilões. Isso, segundo Terto, não mudou ao longo dos anos e continua a prejudicar os esforços de tratamento e prevenção.
Erika Kokay (PT-DF), deputada que presidiu a reunião, enfatizou a necessidade de um diálogo mais aprofundado com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Kokay questionou as razões por detrás do abandono de tratamento por parte dos pacientes, seja o grupo de 16% que descontinuam o tratamento ou os 8% que nunca o iniciaram.
Apesar desses desafios, há algumas notícias positivas. A Unaids Brasil destacou uma queda significativa na mortalidade por Aids no país, que diminuiu de 5,5 mortes para 4,1 por 100 mil habitantes nos últimos dez anos, representando uma redução de mais de 25%.
A reunião deixou claro que embora o Brasil tenha feito avanços significativos na luta contra o HIV/Aids, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar as metas desejadas, sobretudo no que tange à discriminação e à adesão ao tratamento.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados