Um dos modelos mais vitoriosos de agricultura irrigada do Brasil está correndo sérios riscos de abalo e enfraquecimento, diante do anúncio feito por Donald Trump de taxar em 50% produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
Refiro-me especificamente às frutas produzidas no Vale do São Francisco, especialmente entre a Bahia e Pernambuco, que têm o território dos EUA como seu principal destino de vendas, um negócio que começou há algumas décadas, beneficia amplamente os produtores nordestinos e satisfaz o paladar dos norte-americanos.
A fruticultura do Vale do São Francisco desempenha um papel crucial na economia regional e nacional, sendo um importante polo de produção e exportação de frutas tropicais. A região se destaca pela sua produção em larga escala de frutas como uva, manga e goiaba, tanto para o mercado interno quanto para a exportação, impulsionando a geração de empregos e renda.
E os Estados Unidos se renderam às delícias das mais variadas mangas produzidas no Vale do São Francisco, como a Tommy Atkins, Palmer, Kent e Keitt, com preferência especial para a Palmer, que os produtores nordestinos conseguiram produzi-la com pouquíssimas fibras, sem fiapo, e se tornaram presença obrigatória na mesa dos estadunidenses.
Nos Estados Unidos, além das mangas, frutas tropicais como mamão, abacaxi, limão e lima, além do açaí e da castanha de caju, são algumas das frutas do Nordeste brasileiro que conquistaram espaço no mercado norte-americano. O consumo de frutas vermelhas, como morango e mirtilo, também é significativo nos EUA. Só no segmento específico de manga, o Vale do São Francisco responde por 82% de toda a produção nacional.
Mas agora, esse importante segmento que foi implantado a partir dos anos 1970 e ganhou força e expansão graças aos arrojados investimentos em pesquisa que resultaram em variedades de enorme sucesso, os produtores estão assustados na iminência de verem a taxação de 50% valendo a partir do dia 1º de agosto, portanto daqui a menos de duas semanas.
Neste momento, 77 mil toneladas de frutas brasileiras aguardam exportação para os Estados Unidos, encalhadas em contêineres em portos brasileiros, aguardando negociações entre Brasil e EUA que permitam o seu embarque. E como se trata de produtos perecíveis, os riscos de perda são altíssimos. Desse total de 77 mil toneladas, 36,8 mil toneladas são de manga, 18,8 mil toneladas de frutas processadas, 13,8 mil toneladas de uvas e 7,6 mil toneladas de outras frutas.
Conforme informações da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), cerca de 2,5 mil contêineres estão preparados para exportação, à espera de uma solução diplomática, mas parece cada vez mais difícil um desfecho final, em razão do desinteresse e silêncio das autoridades americanas, além da aproximação da data firmada por Trump para início da taxação.
Outro fator que está deixando os produtores e exportadores do Vale do São Francisco apreensivos e sem saída, além das 77 mil toneladas vendidas e impossibilitadas de embarque, é o fato de que os meses de agosto, setembro e outubro são exatamente os meses de pico da produção e exportação para o mercado americano. Se a partir do dia primeiro do próximo mês a taxação prevalecer, todos ficarão sem saída e as consequências locais, além dos prejuízos, virão na forma de paralisação de atividades e uma prática danosa de desemprego.
Em novembro do ano passado, num amplo acordo fechado entre os Presidentes Lula e Xi Jinping, Brasil e China ampliaram bastante as relações comerciais, nisso incluída a exportação para os chineses de um grande volume de frutas, com benefícios diretos aos produtores e exportadores do Vale do São Francisco. Mas isso, pela necessidade de vencer etapas de negociações entre empresas dos dois países, ainda não resolve esse imenso vácuo provocado pelas decisões unilaterais, absurdamente irracionais, que o Presidente Trump quer implantar.
Por José Osmando