O Governo Federal tem sofrido com um fenômeno crescente na política nacional, carimbado com o rótulo de traição. Isso acontece com muita frequência na Câmara dos Deputados e no Senado e vem se proliferando na vida partidária, contaminando negativamente as relações de confiança dentro das organizações políticas.
Agora mesmo, na tramitação da tal emenda da anistia (que visa tornar livres o ex-presidente Bolsonaro e 7 militares de altas parentes, pelos atentados de 8 de janeiro), nada menos do que 148 deputados que integram partidos detentores de ministérios do Governo Lula, assinaram a proposta de urgência.
Ou seja, além de darem as costas à defesa da Democracia, que foi duramente atacada naquela manhã de domingo, uma semana após a posse do mandatário eleito legitimamente pelo povo, foram todos infiéis aos princípios mínimos de reciprocidade para com o grupo a que seus partidos estão vinculados.
Desse modo, pode-se ver que parlamentares do União Brasil, Partido Progressista, Republicanos, PSD e MDB, todas essas agremiações comandando ministérios do atual governo, ofertando 148 assinaturas, foram, de fato, a base de garantia para que o projeto de anistia tivesse mais do que o apoio mínimo necessário para garantir urgência.
Com seus votos, disseram claramente que não viram nada no 8 de janeiro, que os acusados são inocentes, que não há necessidade de punição para quem atentar contra o patrimônio público dos poderes da República, nem mesmo para quem planeje assassinar o presidente da República, o Vice-Presidente e um ministro da Suprema Corte.
O União Brasil, partido que detém os ministérios das Comunicações, Turismo e Desenvolvimento Regional, deu 40 votos à urgência da anistia; O PP, que tem em suas mãos o Ministério do Esporte, levou 35 votos na sua bandeja de bondades; O Republicanos, detentor do Ministério de Portos e Aeroportos, chegou voando com 28 deputados; o PSD, que detém Minas e Energia, Agricultura e Pesca, ofereceu 23 assinaturas e o MDB, que se tornou historicamente relevante na redemocratização do Brasil, liderado pelo saudoso deputado Ulisses Guimarães, chegou correndo com 20 deputados, garantindo que os envolvidos em 8 de janeiro não paguem por seus atos.
O que aconteceu por esses dias na Câmara, nesse indevido projeto de anistia, marcando um processo degradante de traição dentro dos partidos, não é novidade. Já vem de um bom tempo essa prática dentro do Congresso.
Quando o Governo vetou projeto projeto referente à “saidinha” de presos , 54 deputados do União Brasil, 43 do PP, 30 do Republicanos, 29 do PSD e 21 do MDB, foram para derrubar o veto de Lula.
No projeto que previa a criminalização das Fake News, também encaminhado pelo Governo, 51 deputados do União Brasil, 42 do PP, 40 do Republicanos, 37 do PSD e 21 do MDB, disseram “Não” à pretensão do Governo.
O mesmo fato se repetiu a favor do Marco Temporal (aquele que retira direitos dos povos indígenas sobre suas terras originárias, favorecendo os latifundiários e garimpos ilegais). Nessa votação, em que o governo esperava derrubar o famigerado “marco”, 48 deputados do União Brasil disseram não ao Planalto, seguidos de 37 do PP, 33 do Republicanos, 25 do PSD e 22 do MDB.
O mesmo se repetiu na derrubada do veto de Lula ao Marco do Saneamento, com 48 deputados do União Brasil, 44 do Progressistas, 33 do Republicanos, 20 do PSD e 31 do MDB, votando contra o governo.
Esses episódios todos refletem a desorganização partidária que tomou conta do Brasil, cuja realidade desastrosa está na advertência que o ex-Presidente José Sarney está fazendo em livro que vai publicar nos próximos dias, intitulado “O Brasil e seus Labirintos”, onde ele atribui toda essa desordem, desarmonia entre poderes, o desrespeito de um para com o outro, o avanço do Congresso sobre o Orçamento da União, tudo isso é apontado na ausência de consolidação das organizações partidárias brasileiras.
De fato, torna-se urgente e necessária uma reforma política no país, como defende Sarney, para tornar possível o advento de partidos ´políticos fortes, sustentados no interesse público pelo Brasil, fundados em princípios de ética, capazes de dar um mínimo de decência e pureza à atividade parlamentar. Está provado que essa estranha infidelidade, falta de compromisso e desrespeito, que temos presenciado, precisam ter fim.
Por José Osmando