Nessa última sexta-feira(24), o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), e embora tenha revelado que a acumulação de alta, de 4,50%, tenha ficado abaixo dos 4,71% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, trouxe uma preocupação relativa ao aumento de preços, sobretudo de alimentos, um fato real que já começa a gerar consequências no consumo das famílias e a influenciar negativamente a produção de bens e serviços.
O fator determinante para aumento de preços, redução de consumo e diminuição do rítmo de atividades da economia, notadamente da indústria, comércio e setores de serviços, está relacionado diretamente ao aumento das taxas Selic, fixadas pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central nas suas últimas três sessões, a partir de setembro de 2024, passando dos 10,50% registrados até julho, para 12,25% em dezembro.
A elevação das taxas Selic, regulando todo o ciclo de juros praticado no mercado, passou a trazer dinheiro mais caro para para os empréstimos e financiamentos, além disso diminuindo a oferta, uma situação que vem causando embaraços aos setores produtivos e desestimulando as compras pelos consumidores. Tal realidade é agora exposta pelo IBGE, que revela elevação nos preços de alimentos e bebidas, com altas expressivos nos preços de alguns produtos básicos, como tomate, batata inglesa, café moído e leite. Também subiram preços de produtos ligados a combustíveis (etanol e óleo diesel), gás veicular e de cozinha e preços de passagens.
E tais incômodos e danos causados à população, que estão fugindo ao controle do governo, devem continuar e até mesmo a se acelerar, em razão de que o COPOM, que estará reunido a partir desta terça-feira(28) e na quarta (29) anunciará o resultado de suas decisões, deverá subir a taxa Selic em 1 ponto percentual, passando dos atuais 12,25% para 13,25%, numa meta previamente fixada de elevar a taxa oficial de juros para 15% ao ano até dezembro de 2025.
É sabido que a taxa Selic é uma referência para o custo das linhas de crédito em geral. Quando ela é elevada, a tendência é de que empréstimos e financiamentos fiquem mais caros – ou seja, que bancos e outras instituições financeiras cobrem juros mais altos nessas operações.
Quando essas taxas caem, como vimos de setembro de 2023 até agosto de 2024, a oferta de crédito ao mercado se faz mais elevada e em condições mais favoráveis aos tomadores de empréstimo, permitindo que os setores produtivos evoluam suas atividades e trazendo a população a maior volume de compras. Isso porque crédito e consumo andam lado a lado. Quando os empréstimos e financiamentos ficam mais caros, naturalmente o nível de consumo tende a diminuir, já que o custo dos produtos e serviços aumenta também. Por isso, a tendência é de que uma elevação da Selic cause uma redução das compras. Na situação oposta – quando a Selic cai – o consumo costuma aumentar.
Mas segmentos influentes e até mesmo dominadores do mercado não entendem dessa forma. Para eles, setores produtivos em crescimento elevado e consumo das famílias em alta levam aos riscos de volta da inflação, uma condição perniciosa que no passado já fez muito mal ao Brasil. Embora, sob uma visão de análise honesta, não se enxergue perigo de volta da inflação, setores do expectro puramente financista não desejam juros baixos, pois isso certamente traria redução aos ganhos extraordinários que eles obtém com taxas sempre mais elevadas.
Puxada pelo aumento das taxas Selic, a elevação de preços e redução de crédito não está ficando apenas no setor de alimentos, valores de combustíveis e de passagens. Muito rapidamente chega ao setor habitacional, dificultando a aquisição da moradia, um dos sonhos mais elementares da população brasileira, que se depara com um défict residencial da ordem de 6,2 milhões de imóveis.
Semana passada, a Caixa Econômica Federal, banco oficial comprometido com o acesso à moradia e à redução de déficit habitacional no país, anunciou que agora está com taxas de financiamento mais altas para financiar imóveis com recursos da poupança e está também com juros maiores para a sua sua recém-lançada linha indexada à taxa Selic.
Aguarde-se para esta quarta-feira notícia desagradável vinda do Copom, com mais um aumento da taxa Selic, que o mercado já previamente definiu e espera que não seja diferente, de 1 ponto percentual, nessa caminhada inglória até chegar aos 15% no final do ano.
Por José Osmando