Povos indígenas desempenharam um papel fundamental na disseminação e diversidade genética da mandioca nas Américas. Uma análise de 573 variedades revelou forte parentesco genético, resultado das práticas tradicionais de seleção e troca de mudas entre aldeias. Esse estudo, publicado na revista Science, demonstra como a evolução, disseminação e diversidade genética da mandioca foram moldadas ao longo dos séculos.
A domesticação da mandioca ocorreu há mais de seis mil anos na região sul da Amazônia e desde então se espalhou por todo o continente americano, antes mesmo da chegada dos europeus. A diversidade genética encontrada nessa planta, reproduzida por clonagem, é surpreendente para os cientistas. Práticas indígenas, como a Casa de Kukurro do povo Waurá, promovem cruzamentos espontâneos e contribuem para ampliar ainda mais essa diversidade.
O estudo analisou os genomas de diferentes variedades de mandioca e seus parentes silvestres em uma extensa e diversificada amostragem no espaço e no tempo. A descoberta de uma conexão genética entre as variedades destaca a eficiência das práticas indígenas na propagação de clones de alta qualidade. Mesmo as plantas cultivadas em locais distantes apresentam parentesco genético próximo, o que sugere uma dispersão eficaz ao longo dos séculos.
A diversidade genética da mandioca é um fator crucial para sua resistência a doenças, pragas e variações ambientais. A reprodução por clonagem, comum no reino vegetal, garante uma produção padronizada e previsível, mas muitas vezes pode resultar em uma perda de diversidade genética. No entanto, a mandioca desafia essa lógica, mantendo uma variabilidade surpreendente ao longo do tempo, graças ao seu alto nível de heterozigosidade.
As práticas tradicionais das comunidades indígenas, como a Casa de Kukurro, representam uma estratégia eficiente de melhoramento genético da mandioca. Esse ritual funciona como um banco genético, permitindo a conservação e ampliação da diversidade da cultura no local. Além disso, o esforço histórico de coleta e análise de amostras de mandioca ao longo de décadas tem sido fundamental para compreender melhor a evolução e a diversidade dessa planta.
O estudo abre novas perspectivas para o melhoramento genético da mandioca, permitindo o desenvolvimento de novas variedades superiores. A diversidade presente nos bancos de sementes e a seleção de variedades espontâneas podem ser essenciais para enfrentar desafios emergentes, como a vassoura de bruxa. O conhecimento gerado por essa pesquisa é fundamental para entendermos o passado, compreendermos o presente e projetarmos o futuro da mandioca.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Celso Viviani / Embrapa