Uma pesquisa recente conduzida em três estados registrou um aumento de até 30% na produtividade da soja de primeira safra com altas doses de calcário. Os dados, coletados desde 2019, indicam que a aplicação elevada de calcário pode resultar em uma diminuição dos nutrientes, mas essa questão pode ser corrigida através da adubação. Os resultados obtidos podem servir de base para a criação de novos protocolos técnicos de manejo para a região.
De acordo com os dados coletados, a aplicação de doses de 10 toneladas de calcário por hectare resultou em aumentos de 18% e 12% nas safras de 2019/2020 e 2020/2021, respectivamente. Este aumento significativo na produtividade da soja de primeira safra na região do Matopiba superou as expectativas em relação às doses recomendadas pelos documentos oficiais. A prática de utilizar altas doses de calcário não causou desbalanceamento na fertilidade do solo, sendo que a eventual diminuição dos nutrientes pode ser corrigida através da adubação.
As pesquisas, conduzidas pela Embrapa Meio-Norte nos estados do Piauí, Maranhão e Pará, foram iniciadas a partir de uma demanda da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja-Piauí), que identificou a utilização de doses mais elevadas de calcário em algumas áreas. O pesquisador da Embrapa Henrique Antunes ressaltou que essa prática tem sido adotada devido ao valor da commodity, a soja.
Antunes também destacou que muitos dos documentos oficiais que regem a fertilidade do solo foram elaborados com base em pesquisas das décadas de 1980 e 1990, e que hoje em dia os agricultores utilizam cultivares de soja com características e demandas nutricionais diferentes, além de sistemas de manejo do solo mais intensivos e uma maior quantidade de insumos biológicos e nutricionais. Por conta disso, a revisão desses documentos se faz necessária, especialmente em regiões de fronteira agrícola com condições peculiares.
Os resultados obtidos com a pesquisa indicam que as doses de calcário próximas a 15 toneladas por hectare conseguem neutralizar a toxicidade do solo por alumínio. Doses entre 10 e 15 toneladas por hectare aumentaram as concentrações de fósforo e potássio, mas quantidades maiores reduziram as concentrações desses elementos e de micronutrientes, ocasionando uma perda de rendimento dos grãos.
Outros profissionais do setor agrícola, como o consultor Diógenes Brandalize e o engenheiro-agrônomo e consultor Christofer Andre Garanhani, também relataram experiências positivas com a utilização de doses mais elevadas de calcário em suas propriedades, resultando em um aumento na produtividade das lavouras. A pesquisa está ajudando os produtores a tomar decisões mais embasadas em relação ao volume de calcário a ser utilizado nas propriedades.
Em resumo, os estudos realizados apontam para os benefícios da utilização de altas doses de calcário na produtividade da soja de primeira safra, desde que sejam tomadas medidas para corrigir eventuais deficiências nutricionais. Essa prática, embora possa demandar um custo mais alto, tem se mostrado eficaz e pode representar uma mudança significativa na agricultura da região do Matopiba e em outras regiões de fronteira agrícola com condições peculiares.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Doze Batista / Embrapa