A produção de feijão no Brasil revela características marcantes em sua estrutura. A vasta maioria dos produtores, cerca de 97%, opera em áreas de cultivo menores do que cinco hectares. Esta condição abrange aproximadamente 533,5 mil propriedades rurais e resulta em um grande número de lavouras, apesar de sua pouca contribuição em termos de volume total de produção. Em contraste, cerca de 3 mil grandes lavouras, representando apenas 0,5% do total, são responsáveis por uma expressiva fatia de 75% da produção nacional, com cerca de 1,2 milhão de toneladas colhidas. Esses dados foram objeto de uma pesquisa realizada pela Embrapa Arroz e Feijão, que analisou a situação nos seis principais estados produtores: Paraná, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso e Bahia.
Independentemente do tamanho da propriedade, as áreas de cultivo de feijão tendem a ser reduzidas. As lavouras menores são predominantes em número, mas é nas grandes lavouras, aquelas com mais de 50 hectares, que se concentra a maior parte da produtividade. Desde a safra 2017/2018, o Brasil começou a exportar mais feijão do que importou. Em termos de autoconsumo, a pesquisa revelou que cerca de 13% da produção não chega ao mercado, sendo consumida nas propriedades que a cultivam. Nas lavouras com menos de cinco hectares, a taxa de autoconsumo atinge 59% para os feijões de cores, enquanto no feijão preto esse índice fica em 38%.
Alcido Wander, socioeconomista da Embrapa e um dos responsáveis pela pesquisa, ressaltou que essa segmentação do feijão por tipo, como feijão preto e de cores, pode ter gerado contagens duplas em estabelecimentos que cultivam ambos. Assim, a quantidade total de propriedades rurais que produzem feijão pode ser um pouco maior do que o estimado.
Em termos de produção e consumo, Wander destacou que nos últimos dez anos, a produção de feijão no Brasil variou entre 2,5 milhões e 3,4 milhões de toneladas, com importações próximas a 100 mil toneladas anuais. Isso tem sido fundamental para manter o abastecimento interno, especialmente com as contribuições de estoques que variam de 130 mil a 450 mil toneladas. Ele explicou ainda que o consumo aparente per capita tem mostrado uma queda, alcançando 13,2 quilos por pessoa anualmente. Nos últimos anos, o Brasil se tornou um exportador líquido de feijões, com volumes de exportação crescendo, especialmente após a safra 2017/2018.
As projeções para o futuro da produção de feijão indicam uma leve diminuição, com expectativas de chegar a 2,9 milhões de toneladas até 2032/33, o que representa uma redução de 5% em relação à safra mais recente. O consumo previsto para esse período é de 2,7 milhões de toneladas, enquanto as importações devem se estabilizar em torno de 65 mil toneladas. Wander acredita que essas projeções de longo prazo podem ser alteradas por mudanças econômicas e de mercado, podendo assim gerar resultados diferentes do esperado.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Sebastião Araújo / Embrapa