Uma pesquisa conduzida ao longo de três anos avaliou 14 variedades diferentes de feijão no Vale do Juruá, no Acre, e comprovou a interconexão profunda entre a agricultura local e a biodiversidade da região. As variedades que apresentaram os mais altos índices de proteína são cultivadas em sistemas agrícolas tradicionais geridos por agricultores familiares. O estudo também destacou a presença significativa de antocianinas, compostos antioxidantes que variaram de 420 a 962 microgramas por grama, superando os níveis encontrados em feijões brancos e outras variedades coloridas. Esta informação pode oferecer uma nova valorização no mercado, possibilitando um aumento na renda de pequenos produtores.
Os feijões cultivados na região integram sistemas agrícolas tradicionais que estão sendo cuidadosamente mapeados, buscando reconhecimento e valorização. Durante a Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP30), marcada para acontecer em Belém, no Pará, esses sistemas serão apresentados em um espaço da Embrapa chamado Agrizone. Uma análise mais detalhada revelou que as duas variedades de feijão-caupi, Costela de Vaca e Manteiguinha Branco, apresentam níveis de proteína que chegam a ser 27%, superando a média de 20% encontrada em regiões distintas.
Sob a orientação do pesquisador Amauri Siviero, a professora Guiomar Almeida Sousa, do Instituto Federal do Acre, realizou pesquisa cujo foco é a qualidade nutricional e o armazenamento dos feijões da região. As análises foram realizadas em um laboratório especializado da Embrapa Acre. A maioria dos feijões foi plantada em períodos secos, principalmente nas praias dos rios locais.
Além dos índices altos de proteína, o estudo destacou a efetividade dos feijões em manter seus valores nutricionais mesmo após 12 meses de armazenamento, indicando a relevância das práticas agrícolas adotadas por comunidades familiares, indígenas e quilombolas. O levantamento, também focado na diversidade de feijões no Acre, contribuiu para a elaboração de um mapa sobre a distribuição desses produtos, identificando Marechal Thaumaturgo como um centro de alta diversidade.
A estratégia de cultivar feijões em áreas de várzea e terra firme revela as adaptações locais e as práticas sustentáveis que esses agricultores empregam. O conhecimento sobre a composição nutricional e as características das variedades cultivadas pode abrir novas oportunidades de mercado, especialmente para consumidores que buscam produtos diferenciados e sustentáveis. A inclusão de feijões do Vale do Juruá em listas de alimentos orgânicos e a possibilidade de certificação de Indicação Geográfica são medidas que podem beneficiar amplamente as comunidades locais.
Por fim, a região não apenas preserva a agrobiodiversidade, mas também mantém tradições culturais que fortalecem a identidade local. O projeto em andamento visa não apenas preservar essas práticas, mas também documentar e valorizar o extenso conhecimento ancestral que perpassa gerações. O papel dessas comunidades na conservação da natureza e na segurança alimentar, combinado com a valorização de suas práticas agrícolas, poderá ser uma ponte importante para o fortalecimento econômico e cultural da região no futuro.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Felipe Sá / Embrapa