Lideranças no Congresso brasileiro, com notável desalento para aqueles que integram o bloco de apoio a Bolsonaro, já começaram a perceber que a decisão tomada pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, de fatiar as denúncias contra os acusados de 8 de janeiro e de outros crimes, dividindo-as em cinco peças com os diferentes núcleos de atuação na trama golpista, dificultou de maneira substancial as possibilidades de algum êxito dos golpistas, da possibilidade mínima de livrá-los da condenação.
Com isso, os processos ganharam mais velocidade de análise jurídica no âmbito do STF, dificultando as históricas procrastinações.
Essa constatação fica evidente quando a cúpula do Congresso, lideranças do Centrão, governistas e oposicionistas estão chegando à conclusão de que não existe qualquer ambiente, dentro do Parlamento, para aprovar anistia aos envolvidos no diabólico plano de golpe, intentado em 8 de janeiro, com depredações às sedes dos Três Poderes, fato que, comprovadamente, não se concretizou porque os comandantes militares de Exército e Aeronáutica, não entraram no barco dos golpistas liderados por Jair Messias Bolsonaro.
Além de avaliarem que a tentativa de anistia seria um contrassenso, por fugir à lógica de que não se pode dar suporte legal a condição inexistente, que seria a condenação dos culpados, algo que ainda não aconteceu, o entendimento político é de que não existe clima, nem votos suficientes para fazer avançar na Câmara uma proposta de anistia.
A denúncia da Procuradoria, com a clara robustez que está sendo apontada por todo o universo jurídico e por lideranças minimamente sensatas do mundo político, parece ter sido a gota d´água na fervura que vinha alimentando os sonhos dos bolsonaristas.
Tanto isso é verdadeiro, que o próprio filho de Jair Messias Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, fez declarações públicas de que há risco de prisão para seu pai e pediu, como recurso talvez único, que as pessoas adeptas, seguidoras, fãs, façam orações pelo ex-presidente. Enfim, entregou a Deus um caso que não pode mais ser revolvido por ações políticas.
Nessa água despejada na fervura, na pós-denúncia da PGR, pesou bastante a declaração do novo Presidente do Senado, David Alcolumbre, dada na última quarta-feira, de que esse assunto de anistia não está na pauta da Casa. E mais: de que isso não é assunto de interesse dos brasileiros. Ao dizer isso, Alcolumbre acerta precisamente, pois as famílias brasileiras estão, de fato, muito mais interessadas no seu bem-estar, na comida no prato, na diminuição dos preços dos alimentos, por exemplo, que nos últimos dias, por um conjunto de motivações, algumas até artificialmente arquitetadas (como o aumento das taxas de juros) tiveram os preços bastante elevados.
Embora a posição do Presidente do Senado não esteja rigorosamente em consonância com o que pensa o Presidente da Câmara, Hugo Mota, que já declarou não reconhecer que tenha havido tentativa de golpe, o ambiente em nada favorece o avanço dessa ideia descabida e inapropriada, porque todos estão percebendo, finalmente, que a bola está nos pés do Supremo Tribunal Federal, a quem cabe rolar no meio-campo, chutar para a trave, fazer gol, e oferecer ao povo brasileiro uma justa, ampla merecida comemoração diante uma vitória contra o golpismo, contra os atentados à Democracia.
O que estamos vendo finalmente chegar à possibilidade de conclusão, de um desfecho tão esperado, é a condenação daqueles que, apegados ao poder sob qualquer forma, não reconhecendo a solidez de nossas instituições, o resultado das urnas, fruto de manifestação livre do povo brasileiro, tentaram um golpe contra a Democracia e contra o Estado brasileiro, impedindo que o eleito tomasse posse e depredando de modo protesto e selvagem os símbolos de nossas instituições democráticas.
O que se deseja é que a Justiça seja feita e que os culpados tenham as celas das prisões como moradia merecida.
Por José Osmando