A produção industrial do Brasil sofreu um leve recuo de 0,1% no quarto trimestre de 2024, mesmo assim apresentando uma expansão de 3,1% em todo o ano passado, comparatimante a 2023. E essa redução no crescimento tem, na sua essência, uma explicação: os juros muito altos, impostos a partir de decisões do Copom de elevar as taxas Selic, tiraram o fôlego desse setor de geração de bens de capital que vinha em franca recuperação.
A perda de desempenho industrial teve início a partir de outubro passado, quando começaram a se refletir diretamente sobre o setor as políticas do Banco Central sobre as atividades produtivas, os juros, pois em setembro de 2024, as taxas Selic, que vinham sendo mantidas em 10,50% desde o mês de maio, passaram a subir, com elevação de 0,25%, ficando em 10,75% e, daí, passando para 11,25% em novembro e fechando o ano em 12,25%.
Todo o setor industrial atribui os problemas causadores desse declínio às dificuldades de obtenção de crédito, com o dinheiro colocado no mercado pelo sistema financeiro ficando cada vez mais caro, por conta dos juros altos oficialmente determinados pelo BC, e consequentemente , pela diminuição do volume desses recursos, por recuou de muitas instituições financeiras na oferta de crédito.
Como o Banco Central é independente, tomando lá suas decisões sem qualquer atenção às preocupações do sistrema produtivo e sem obediência alguma ao governo, resta aos governantes, ao que parece, agir em outros caminhos para tentar atenuar os problemas que fazem a indústria freiar sua caminhada.
Uma dessas alternativas tem sido o Governo motivar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, que é oficial, a aumentar sua presença no mercado, oferecendo crédito com juros subsidiados, com objetivos definidos, como, por exemplo, o processo de renovação tecnológica de toda a malha industrial. Há um entendimento de que todos os setores industriais que lideraram o crescimento de produção em 2023 e 2024 são bastante sensíveis a juros, responsáveis pelas demandas de eletrônicos, automóveis, equipamentos elétricos, construção civil, que mais apresentam sinais de arrefecimento quando os juros são altos ou diminui a presença de crédito.
Certamente vem dessa compreensão a decisão do BNDES de, já em 2024, ter aprovado R$ 64,1% bilhões para que o parque industrial brasileiro possa comprar máquinas e equipamentos, elevando as destinações anteriores, de 2023, que tinham ficado em R$ 60 bilhões. Isso está beneficiando diretamente a produção de bens de capital e permitindo uma renovação tecnológica extramamente necessária, pois contribui para deixar o Brasil mais presente e mais competitivo nas suas exportações.
Com valor aproximado até o momento de R$ 182 bilhões, as aplicações do BNDES para o setor de inovação tecnológica industrial do Brasil passam a ter maior volume do que tradicionalmente o banco oficial tem destinado ao agronegócio, embora não tenha havido diminuição dos recursos destinados à produção agropecuária do país.
Para um segmento específico, o BNDES aprovou o financiamento de R$ 2,1 bilhões para a Embraer, a poderosa empresa nacional da produção aeronáutica, permitindo a exportação de 16 aeronaves do modelo E-175 para a empresa norte-americana Republic Airway, que opera exclusimante com aeronaves brasileiras.
A propósito, a Embraer acaba de anunciar que assinou com a Flexjet, outra empresa norte-americana, com foco em arrendamento e compartilhamento de aeronaves privadas, a venda de 182 jatos executivos, um negócio avaliado em US$ 7 bilhões. O acordo foi tão bem recebido ontem pelo mercado, que as ações da Embraer no Ibovespa saltaram 15,51%, a maior alta do dia de todo o mercado.
Essas demonstram ser boas atitudes governamentais para estimular o avanço da indústria brasileira, depois de quase uma década de descaso.
Por José Osmando