Uma equipe de pesquisadores da Embrapa realizou um estudo inédito no qual eliminaram dois genes da planta do feijão que estavam relacionados à produção de oligossacarídeos da família rafinose, compostos que causam desconforto digestivo e flatulência em humanos. Essa importante pesquisa foi baseada no conhecimento do genoma do feijão e na utilização da ferramenta de engenharia genética CRISPR, que pela primeira vez foi empregada para o desenvolvimento de uma variedade de feijão com menos fatores antinutricionais.
Os genes desativados estão ligados à rota de rafinose na planta de feijão, e o próximo passo do estudo é avançar nas gerações de plantas editadas, com o objetivo de obter variedades mais saudáveis e atrativas tanto para produtores quanto para consumidores. A equipe responsável pela pesquisa, composta pelos pesquisadores Josias Correa e Rosana Vianello, juntamente com o bolsista Dener Lucas dos Santos, vem realizando essa importante etapa do estudo.
Durante a pesquisa, foram analisados os teores de oligossacarídeos do grupo rafinose em diferentes tecidos e fases de desenvolvimento da planta de feijão. Identificaram-se genes como rafinose e estaquiose, ambos relacionados à produção desses compostos de difícil digestão, e tiveram sua expressão bloqueada por meio da técnica de edição gênica CRISPR. Essa técnica, segundo Vianello, é revolucionária para a edição gênica e possibilita um melhoramento de precisão nas características tecnológicas e nutricionais dos grãos, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento de variedades mais atrativas.
O estudo também se propõe a avaliar a redução significativa da presença de teores de rafinose no grão de feijão, o que poderá resultar no lançamento de uma variedade editada geneticamente em um prazo entre cinco a oito anos. Essa pesquisa está inserida no projeto “Desenvolvimento e aplicação de novas soluções biotecnológicas no melhoramento genético do feijão-comum”, financiado pelo CNPq e liderado pelo pesquisador Francisco Aragão da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Além disso, o estudo aborda a importância da ferramenta CRISPR, que funciona como uma “tesoura molecular” para cortar o DNA e possibilita a edição precisa do material genético, abrindo possibilidades para a geração de novos produtos e cultivos mais resistentes a pragas e doenças. Essa técnica, desenvolvida pelas cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, ganhadoras do Prêmio Nobel de Química de 2020, tem transformado a engenharia genética e aberto novos horizontes para a pesquisa científica.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Rodrigo Peixoto / Embrapa