Um estudo pioneiro realizado por cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil investigou o impacto da introdução de colônias de abelhas manejadas em fazendas de café localizadas em São Paulo e Minas Gerais. Os resultados surpreendentes indicaram que a polinização assistida resultou em um aumento significativo na produtividade e na qualidade do café arábica, levando a um potencial de incremento na receita anual da cultura em até R$ 22 bilhões.
A presença das abelhas introduzidas nas fazendas aumentou a produtividade em impressionantes 16,5%, passando de 32,5 para 37,9 sacas por hectare. Além disso, houve um impacto positivo na qualidade do café, com a nota sensorial da bebida sendo elevada em 2,4 pontos, resultando na classificação dos grãos de regulares para especiais em algumas propriedades. Esse avanço na qualidade do café também teve um reflexo direto no valor de mercado, com um aumento de 13,15% no valor da saca, o que representa um ganho de US$ 25,40 por saca para os produtores.
O estudo também avaliou o impacto do uso do defensivo agrícola tiametoxam, comumente utilizado nas lavouras de café, na saúde das colmeias. Os resultados demonstraram que, quando respeitadas as recomendações técnicas, o uso desse defensivo não afetou a saúde das abelhas, o que reforça a importância de seguir as práticas adequadas de manejo. Além disso, a integração entre o manejo de polinizadores e a atividade cafeicultora em larga escala mostrou benefícios adicionais, contribuindo para uma maior sustentabilidade ambiental nas lavouras.
A pesquisa também analisou a convivência entre a polinização assistida e o controle de pragas, destacando a importância de um uso equilibrado de defensivos agrícolas para garantir a proteção da lavoura sem comprometer a saúde dos polinizadores. Essa abordagem integrada pode ser fundamental para minimizar os riscos a organismos não-alvo e promover uma agricultura mais sustentável e eficiente.
Com base nos dados obtidos, os pesquisadores estimaram que, se todos os cafeicultores brasileiros adotassem a tecnologia da polinização assistida, a produção de café no país poderia ser transformada, com um aumento de 16,5% na produtividade e um impacto econômico total estimado em R$ 22,429 bilhões. Esses números evidenciam o potencial da polinização assistida como uma estratégia viável e essencial para impulsionar a produtividade e a qualidade do café, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação dos polinizadores e o equilíbrio dos ecossistemas.
O estudo também revelou que a adoção em larga escala da polinização manejada poderia representar uma oportunidade única para o setor apícola, com a necessidade estimada de aproximadamente 6 milhões de colmeias de abelhas africanizadas para cobrir toda a área plantada de café arábica no Brasil. Essa iniciativa poderia não só otimizar a produção agrícola como também promover a conservação da biodiversidade, evidenciando o papel da inovação agrícola como aliada da sustentabilidade.
Diante dos resultados promissores e dos benefícios econômicos, ambientais e sociais proporcionados pela polinização assistida, fica evidente que essa prática inovadora pode ser um caminho sem volta para a cafeicultura brasileira, gerando resultados significativos e contribuindo para uma agricultura mais sustentável e responsável. A colaboração entre agricultura e natureza, exemplificada pela integração entre o manejo de polinizadores e a atividade cafeicultora, pode representar um modelo a ser seguido não apenas na cafeicultura, mas também em outras áreas agrícolas, promovendo um equilíbrio entre a produção agrícola e a conservação dos recursos naturais.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Gustavo Facanalli / Embrapa