Na última quinta-feira, durante uma sessão da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais na Câmara dos Deputados, o foco voltou-se para a inclusão dos sistemas agrícolas tradicionais indígenas como uma solução potencial para os desafios climáticos contemporâneos. A discussão, liderada pela deputada Célia Xakriabá (Psol-MG), destacou a importância da preservação e valorização das práticas agrícolas indígenas. Para Xakriabá, estes métodos não apenas fomentam a biodiversidade, mas também oferecem uma abordagem sustentável ao manejo de recursos naturais, contribuindo assim para mitigar as mudanças climáticas, incluindo a redução dos gases de efeito estufa.
A deputada enfatizou a necessidade urgente de resgatar os conhecimentos tradicionais que, com o passar do tempo, têm se perdido. Ela criticou a preferência do Congresso Nacional pelo agronegócio, isento de impostos sobre agrotóxicos, defendendo que a verdadeira riqueza está na produção de alimentos saudáveis e livres de venenos, em sintonia com as tradições indígenas. “A pessoa mais rica é aquela que produz sua própria alimentação sem veneno, uma alimentação que não só alimenta o corpo, mas também reconecta os indivíduos com suas raízes culturais”, frisou.
Durante a reunião, Leosmar Antônio Terena, do Ministério dos Povos Indígenas, sublinhou a importância da agroecologia indígena em evitar um colapso ambiental. Ele destacou que, de acordo com relatórios internacionais, os conhecimentos dos povos indígenas representam uma estratégia vital para combater a desertificação e a insegurança alimentar. Além disso, Terena argumentou que garantir os direitos territoriais desses povos é essencial para preservar seus conhecimentos ancestrais. Ele também mencionou a terra preta da Amazônia, um exemplo de solo fértil aprimorado através de práticas indígenas, que possui propriedades enriquecidas com zinco, magnésio e potássio, ideais para a agricultura.
Leiva Martins Pereira, da Funai, apontou que o Brasil vive um momento de resgate das políticas públicas voltadas para a agroecologia, movimento que se mostra crucial frente às crises provocadas pelas mudanças climáticas, como pragas e extremos climáticos. Durante o encontro, participantes alertaram sobre o risco das atividades devastadoras em territórios indígenas impulsionadas por interesses do agronegócio. Célia Xakriabá enfatizou que os ataques aos povos indígenas ameaçam a sobrevivência da agroecologia e, por extensão, da humanidade.
Outros relatos vaticinaram a importância das práticas agrícolas tradicionais na promoção da fertilidade do solo, da conservação da água e da promoção da biodiversidade. Elisa Urbano Ramos Pankararu, representante indígena, destacou o equilíbrio inerente à ciência indígena, que integra todos os seres vivos em seu conceito de harmonia.
O evento integrou as atividades do 1° Encontro Nacional de Agroecologia Indígena, que aconteceu entre 26 e 29 de novembro em Brasília, reunindo representantes de diversos territórios indígenas.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados