Em 1º de julho de 2024, Maceió, Alagoas, foi palco da 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, o fórum legislativo do G20. Este evento histórico contou com a participação de mais de 170 parlamentares de várias partes do mundo e focou no papel crucial das mulheres na luta contra as mudanças climáticas. A abertura do encontro destacou a perspectiva de gênero na justiça climática e no desenvolvimento sustentável, alertando para a necessidade urgente de incluir as mulheres nas decisões sobre questões ambientais.
A deputada Ana Pimentel (PT-MG), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, criticou o modelo de desenvolvimento baseado na austeridade e na exploração predatória do meio ambiente. Segundo ela, eventos extremos como secas e enchentes, erroneamente chamados de tragédias, são resultados de escolhas humanas equivocadas e impactam desproporcionalmente as mulheres. Pimentel enfatizou que problemas como migração, aumento da violência, casamento infantil e evasão escolar se intensificam com a crise climática, que poderá desalojar mais de 1,2 bilhão de pessoas até 2050, sendo que 80% delas serão mulheres.
No Brasil, setores conservadores ainda negam as mudanças climáticas, agravando a situação. Pimentel ressaltou a importância de um novo projeto de desenvolvimento que priorize a vida e a sustentabilidade, criticando a política de superávit fiscal. Ela defendeu a taxação de grandes fortunas para financiar medidas de proteção ambiental e justiça social, destacando que 3% dos mais ricos controlam 13% da riqueza mundial e são responsáveis por grande parte dos danos ambientais.
A senadora Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina no Senado, chamou a atenção para os deslocamentos provocados por eventos climáticos, que já superam os causados por guerras e violência. Barros defendeu a integração de políticas globais sustentáveis, visto que a crise climática não respeita fronteiras. Ela destacou a sobrecarga desproporcional que recai sobre as mulheres, responsáveis pelo cuidado familiar, especialmente em contextos de sobrecarga social e trabalho doméstico, como as mães solo e mulheres negras e indígenas. A senadora apelou para a necessidade de levar aos parlamentos a visão de cuidado tanto das pessoas quanto do planeta.
Ana Claudia Jaquetto Pereira, representante da ONU Mulheres, salientou a importância de políticas de longo prazo que considerem as desigualdades de gênero. Ela alertou que, caso os piores cenários climáticos se confirmem, mais de 236 milhões de mulheres e meninas sofrerão de insegurança alimentar até 2030. Jaquetto acentuou que, apesar das mulheres serem guardiãs das práticas sustentáveis, enfrentam muitas barreiras de participação em decisões tanto nacionais quanto multilaterais.
O encontro também contou com a participação de representantes de outros países, que reforçaram a necessidade da inclusão efetiva das mulheres nas discussões sobre mudanças climáticas. A deputada americana Sydney Kamlager-Dove, por exemplo, destacou a importância de focar as políticas ambientais em grupos marginalizados. A inglesa Anelay of Saint Johns falou sobre a queda na renda das mulheres e as dificuldades adicionais que enfrentam após catástrofes ambientais, como violência sexual e tráfico humano.
A representante da União Interparlamentar, Cynthia Lopes Castro, trouxe dados alarmantes sobre a sub-representação feminina no poder, com apenas 11% dos presidentes e primeiros-ministros sendo mulheres e cerca de 26% dos parlamentos globais contando com participação feminina. Ela defendeu a implementação de cotas para mulheres em cargos eletivos como uma medida crucial para assegurar a representatividade e a participação ativa nas decisões políticas.
O evento em Maceió foi um marco importante, revelando a intersecção entre crise climática e desigualdade de gênero, e sublinhando a urgência de uma abordagem mais inclusiva e sustentável para o futuro do nosso planeta.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados