No último dia 30 de outubro, a Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados foi palco de um importante debate sobre a nova política industrial do Brasil. No mesmo dia em que o governo federal revelou mais investimentos para o ambicioso programa Nova Indústria Brasil (NIB), representantes dos setores empresarial e trabalhista trouxeram à tona sugestões críticas focadas em robustecer o número de empregos e fortalecer a participação do setor industrial no Produto Interno Bruto (PIB).
Este programa, lançado no início do ano, busca promover uma “neoindustrialização” ao ultrapassar os esforços tradicionais de reindustrialização e explorar segmentos demandantes de alta complexidade tecnológica. Entidades presentes manifestaram apoio, ainda que com ressalvas estratégicas. Samantha Ferreira e Cunha, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), enfatizou a necessidade de que a política industrial tenha continuidade como uma política de Estado. Para ela, tal medida é crucial para reduzir desigualdades e alavancar o crescimento do país em patamares mais significativos. Ela também destacou a importância de uma melhor articulação entre os setores público e privado, sugerindo que uma coordenação efetiva é essencial para garantir resultados tangíveis.
Desde 2012, a indústria de transformação tem diminuído a sua participação, com um encolhimento de 1,4%, enquanto a agropecuária e o setor de serviços cresceram no mesmo período. Embora o Brasil já tenha figurado entre as dez maiores potências industriais do mundo, atualmente, o país ocupa a 16ª posição, ficando atrás de nações como Rússia, Taiwan e Indonésia. No entanto, o setor industrial brasileiro ainda tem um papel significativo, representando 25,5% do PIB, respondendo por 66% das exportações brasileiras de bens e serviços e 34% da arrecadação de tributos federais. Os salários médios no setor industrial também superam a média nacional.
As discussões na comissão evidenciaram que para concretizar os objetivos do NIB, é necessário enfrentar desafios cruciais como taxas de juros elevadas, burocracia, atraso tecnológico, infraestrutura deficiente e a concorrência com produtos manufaturados asiáticos. Ubiraci Dantas, vice-presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), apresentou um documento com sugestões para revigorar a economia nacional, destacando a redução das taxas de juros e o aumento dos investimentos públicos como ações prioritárias.
Por outro lado, James Gorgen, representante do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, informou que serão criados grupos de trabalho focados nas 22 cadeias prioritárias do NIB, com previsão de investimentos que podem chegar a R$ 2 trilhões. O governo também anunciou investimentos maciços, da ordem de R$ 1,6 trilhão até 2033, nas indústrias de infraestrutura, saneamento básico, moradia e mobilidade. Além disso, o programa contempla cadeias agroindustriais sustentáveis e outras áreas estratégicas.
O deputado Daniel Almeida salientou a importância do papel da Comissão de Desenvolvimento Econômico na coordenação dessas iniciativas, garantindo que as ações beneficiem efetivamente os trabalhadores. André Godoy, da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), observou que os resultados já começam a aparecer, com um aumento registrado de 4,3% no PIB industrial no último trimestre, atribuindo esses ganhos ao impacto positivo dos investimentos.
Esse cenário coincide com uma tendência global, onde países como EUA, Japão e os da União Europeia estão investindo trilhões em políticas industriais que oferecem incentivos e subsídios para proteger suas economias. É uma corrida contra o tempo para ajustar o Brasil às dinâmicas globais e assegurar que a indústria nacional não apenas sobreviva, mas prospere no cenário internacional.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados