Na noite de terça-feira, 2 de julho de 2024, o Plenário da Câmara dos Deputados foi palco de intensos debates em torno das recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic, a taxa básica de juros, em 10,5%. A decisão, que teve impacto no mercado financeiro, culminou na alta do dólar, que fechou o dia cotado a R$ 5,66. Em entrevista a uma rádio baiana, Lula expressou preocupação afirmando: “Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. Há uma especulação”.
O deputado Luiz Lima (PL-RJ) criticou o presidente, destacando que mesmo os quatro membros do Comitê de Política Monetária (Copom), indicados pelo Executivo, votaram pela manutenção da taxa, o que reflete a tecnicidade da decisão. Segundo Lima, a crítica de Lula ao BC fomenta a inflação e resulta na alta do dólar, imputando uma “irresponsabilidade fiscal” ao governo federal.
O Copom, órgão composto por nove membros, estabelece a taxa Selic a cada 45 dias. Marcel van Hattem (Novo-RS), vice-líder da oposição, apontou que com o término do mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, em dezembro, o executivo ficará sem um “bode expiatório”. Van Hattem sugere que o novo presidente indicado por Lula manterá a política atual, contrariando os desejos do presidente, ou então adotará medidas irracionais que, segundo ele, “afundariam o Brasil ainda mais”.
Em defesa do governo, a deputada Gleisi Hoffman (PT-PR), presidente do PT, argumentou que os indicadores econômicos são mais positivos do que o esperado pelo mercado, ressaltando que o PIB cresceu 2,9% em 2023 e a inflação fechou em 4,62%, contrariando as previsões do Boletim Focus. Hoffman criticou aqueles que pedem para Lula diminuir suas falas, afirmando que ele deve “falar as verdades”.
Já o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) propôs que o Banco Central intervenha na política de câmbio para conter a valorização do dólar. Ele mencionou que a gestão anterior vendeu 70 bilhões de dólares das reservas cambiais para essa finalidade e criticou a atual gestão por “estar de braços cruzados”. Para ele, o compromisso maior do BC é a estabilidade monetária.
Márcio Jerry (PCdoB-MA) também criticou Campos Neto, acusando-o de proteger lucros e juros ao invés de auxiliar a economia do país. José Nelto (PP-GO) enfatizou que, apesar da baixa taxa de desemprego de 7,1% até maio, a alta do dólar poderia prejudicar a economia nacional, resultando em inflação e perda do poder aquisitivo.
O debate em torno do papel do Banco Central, suas políticas e a relação com o governo federal reflete diferentes perspectivas econômicas e políticas, destacando a tensão entre as decisões técnicas e o impacto político e social dessas medidas. A continuidade desse debate será crucial para definir os rumos da economia brasileira nos próximos meses.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados