O perfil e os desafios dos caminhoneiros autônomos no Brasil foram discutidos nesta terça-feira (13), em uma audiência na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados. Durante a sessão, foram divulgados os resultados de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e realizada pela AGP Pesquisas, analisando a realidade desse grupo que transporta cerca de 80% da carga do país, com exceção da mineração.
Os dados revelam um cenário preocupante: 99% dos caminhoneiros autônomos são homens, com uma idade média de 46 anos e 17 anos de profissão. Eles trabalham em média 12 horas por dia, recebendo R$ 39,50 por hora trabalhada. Infelizmente, a pesquisa também destaca a negligência com a saúde e o uso frequente de medicações e outras substâncias para prolongar a vigília.
Alan Medeiros, assessor da CNTA, apresentou os resultados e destacou a necessidade de políticas públicas que ofereçam melhores condições de trabalho para os caminhoneiros. Ele apontou o envelhecimento da categoria, a insegurança nas estradas e a carência de pontos de descanso e exames toxicológicos gratuitos como questões urgentes que precisam ser abordadas. “Quase metade dos caminhoneiros acredita que não há iniciativas eficazes do governo federal para incentivar a permanência na estrada”, afirmou Medeiros. Ele revelou ainda que 54% dos profissionais cogitam deixar a profissão, o que levanta preocupações sobre o futuro do transporte rodoviário de cargas no Brasil.
Diumar Bueno, presidente da CNTA, também defendeu a necessidade de investimentos para melhorar as condições de trabalho dos caminhoneiros, incluindo a renovação da frota e a eliminação de intermediários que exploram os trabalhadores. Segundo ele, a qualificação dos profissionais é fundamental, mas deve ser acompanhada de uma remuneração justa e segurança no trabalho. O deputado Zé Trovão (PL-SC), que propôs o debate, concordou, enfatizando a importância de melhorar as estradas e oferecer melhores recursos.
Outro parlamentar, Marco Brasil (PP-PR), ressaltou a importância de valorizar a profissão, lembrando a solidão e o sacrifício dos caminhoneiros que deixam suas famílias para garantir o funcionamento do transporte no país.
Representantes do governo federal também estiveram presentes e corroboraram muitos dos dados apresentados, indicando uma concordância nas informações. José Amaral Filho, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), destacou que enquanto o Brasil tem alcançado recordes na produção de grãos, a expansão da categoria de transporte não tem acompanhado o mesmo ritmo. Leonardo Rodrigues, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), abordou o desafio de implementar pontos de parada e descanso, destacando que questões como higiene e segurança dos trabalhadores estão sendo discutidas, embora existam limitações orçamentárias.
Norival de Almeida Silva, presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens), finalizou a audiência com um alerta: o Brasil não pode esperar por um colapso no transporte de cargas para começar a prestar atenção às necessidades dos caminhoneiros autônomos.
Esta comovente discussão trouxe à tona a urgente necessidade de reformulação e valorização de uma profissão vital para a economia brasileira, cujas dificuldades e sacrifícios têm sido historicamente negligenciados.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados












