O Parlamento da Coreia do Sul deu um passo decisivo nesta terça-feira (3), ao votar pela revogação da lei marcial imposta pelo presidente Yoon Suk Yeol, em um episódio que destaca a força das instituições democráticas no país e a crescente polarização política.
A decisão parlamentar, com 190 votos a favor, ocorreu horas após Yoon justificar a medida como necessária para combater “forças antiestatais pró-Coreia do Norte” e “proteger a ordem constitucional”. No entanto, a imposição da lei marcial, a primeira em mais de quatro décadas, provocou forte resistência tanto dentro do governo quanto entre os legisladores da oposição e a sociedade civil.
A imposição e os desdobramentos da lei marcial
O decreto assinado pelo General Park An-su previa medidas severas, incluindo:
- Proibição de atividades políticas e manifestações;
- Controle total das mídias e publicações;
- Repressão a greves e paralisações;
- Autoridade para prender e revistar sem mandados.
O anúncio desencadeou uma série de protestos em Seul e outras cidades, além de declarações públicas de líderes políticos e sociais condenando a medida.
“A lei marcial não é uma ferramenta de resolução política. É uma declaração de guerra contra a democracia”, afirmou um líder da oposição, destacando que o Parlamento era o último bastião da liberdade no país.
O papel do Parlamento e a resposta militar
A sessão extraordinária do Parlamento foi marcada por tensões. Com o prédio inicialmente cercado por tropas, os legisladores conseguiram se reunir e aprovar a moção de revogação da lei marcial.
A decisão foi transmitida ao vivo, em um gesto simbólico de transparência e resistência democrática. Após a votação, as tropas militares recuaram, indicando que o Comando da Lei Marcial acatou a decisão.
Contexto histórico e ressonância atual
A declaração de lei marcial reacendeu memórias sombrias na Coreia do Sul. Em 1980, durante o governo do general Chun Doo-hwan, a imposição da medida resultou no massacre de Gwangju, onde centenas de manifestantes pró-democracia foram mortos.
Embora o episódio atual não tenha escalado para níveis de violência similares, o decreto militar de Yoon Suk Yeol expôs a fragilidade do equilíbrio democrático no país, que continua a lutar contra os fantasmas de seu passado autoritário.
Impacto na sociedade e no cenário internacional
A rápida revogação da lei marcial foi vista como uma vitória para as instituições democráticas sul-coreanas. No entanto, os danos à imagem do governo e à estabilidade política podem ter consequências duradouras.
Para a comunidade internacional, a crise é um lembrete de que, mesmo em democracias consolidadas, a tentação de recorrer a medidas extremas pode emergir em tempos de polarização política.
Conclusão
A revogação da lei marcial na Coreia do Sul reforça o papel vital das instituições democráticas em proteger os direitos e as liberdades civis. No entanto, o episódio deixa claro que o país enfrenta desafios significativos para preservar a estabilidade e superar as divisões internas.
Com um sistema político resiliente e uma sociedade engajada, a Coreia do Sul tem a oportunidade de usar esse momento como uma lição para fortalecer ainda mais sua democracia e reafirmar seu compromisso com os valores que a definem no cenário internacional.