A luta contra o racismo no Brasil é uma luta constante, que envolve a ocupação de espaços sociais, culturais e políticos por pessoas negras. Em Maceió, essa luta tem se fortalecido através dos profissionais de educação na rede municipal de ensino, que buscam promover a equidade e a integração de estudantes negros e indígenas por meio do Letramento Racial Crítico (LRC).
O termo Letramento Racial tem ganhado destaque nos últimos meses como uma pauta relevante e um tema de discussão nas redes sociais, na política e nos meios acadêmicos. No entanto, o Letramento Racial Crítico já é utilizado há muitos anos. Em 2003, foi sancionada a Lei 10.639, que incluiu a história e cultura afro-brasileiras nos currículos escolares. No início deste ano, a lei completou 20 anos.
Segundo Luciano Amorim, pedagogo e coordenador da Coordenação-geral Técnica de Ações Educacionais de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria Municipal de Educação de Maceió, o Letramento Racial Crítico não se restringe ao ambiente escolar, mas deve ser pensado de forma mais ampla. Para ele, o LRC é uma postura que deve ser adotada diariamente na sociedade.
O LRC é uma metodologia que se baseia em princípios sociais adotados pela política nacional e internacional de direitos humanos. Vai além do ensino básico, valorizando a ancestralidade e a identidade individual e coletiva, e busca estimular mudanças e rupturas. O Letramento Racial diz respeito a quem somos como pessoas.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação, existem 772 estudantes negros e 15.178 pardos na rede municipal de ensino de Maceió. Além disso, há 36.300 alunos que não declararam sua raça/cor, 2.006 estudantes brancos, 117 amarelos e quatro indígenas.
Luciano Amorim ressalta a importância do Letramento Racial para as crianças, afirmando que é necessário que as escolas adotem uma postura inclusiva, com uma literatura diversificada e brinquedos que representem a realidade dos estudantes. Ele destaca que é importante reconhecer a identidade e a pertencença das crianças, e que isso pode ser alcançado por meio de atividades e materiais que promovam a diversidade.
Leila Costa, assistente social da Escola Municipal Higino Belo, trabalha há 18 anos com a valorização da diversidade étnico-racial na unidade escolar. Ela criou o projeto “Iluminar”, inspirado na música “Iluminado”, de Djavan, que tem como objetivo incluir mais diversidade na literatura infantil da escola e abordar temas como bullying, abuso sexual infantil e diversidade étnico-racial.
Leila relata que, durante as atividades do projeto, as crianças expressam suas próprias histórias e identidades. Ela destaca a importância de trabalhar a identidade e a inclusão das crianças, especialmente aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade. Para ela, a escola deve ser um espaço de construção de conhecimento socio-cultural.
Isa Cajé, professora e coordenadora pedagógica do CMEI Silvânio Barbosa, utiliza o Letramento Racial Crítico como uma forma de empoderar as crianças e promover a identificação com suas próprias raízes. Ela realiza diversas atividades, como a confecção de bonecos e bonecas pretas, leitura de livros com temática afro e indígena, construção de autorretratos e apresentações de danças tradicionais.
Isa ressalta a importância de abordar essas questões ao longo do ano, e não apenas no mês de novembro. Ela destaca a influência da cultura africana no Brasil e a necessidade de valorizar as crianças negras e indígenas nas escolas. Para ela, a escola deve ser um espaço acolhedor e dinâmico, que desconstrua estereótipos e promova a diversidade.
A luta pelo Letramento Racial Crítico continua em Maceió, com profissionais de educação comprometidos em promover a equidade e a inclusão de estudantes negros e indígenas. Através de atividades e materiais que valorizam a diversidade, eles estão reconstruindo histórias e mudando realidades. A educação é uma ferramenta poderosa na luta contra o racismo, e é fundamental que as escolas adotem uma postura inclusiva e afirmativa.