No momento exato em que o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio, dos EUA, iniciam as negociações em torno do tarifaço aplicado pelo presidente Donald Trump ao Brasil, o acirramento dos ânimos entre norte-americanos e chineses acerca das chamadas Terras Rasas, pode ser uma boa notícia para o Brasil.
As terras raras entraram como um dos itens mais sensíveis nas proposições comerciais do presidente Trump, pelo fato de que esses metais são elementos essenciais para a fabricação de caças, navios, submarinos e mísseis, agravando-se aos olhos dos Estados Unidos, neste momento, depois que o presidente chinês Xi Jinping, na guerra comercial disparada pelo dirigente norte-americano, decidiu vetar o fornecimento de terras raras se a sua finalidade estiver ligada a aplicação militar, servindo à fabricação de armamentos.
A China detém a maior reserva mundial de terras raras, com 44 milhões de toneladas métricas. Enquanto as restrições anunciadas pela China ao uso de terras raras são parciais, limitadas, quando se trata de fabricação de chips avançados importantes para a indústria de tecnologia, como comunicação e energias limpas, esse veto passa a ser total quando o assunto é Defesa.
Nesse impasse entre EUA e China, de total contrariedade para Trump, o Brasil vai ter sua importância bastante realçada, porque nesse contexto nosso país possui a segunda maior reserva de terras raras do Planeta, ostentando cerca de 23% de todo esse mineral acumulado no mundo. Temos 21 milhões de toneladas métricas.
Por outro lado, o Brasil não detém as tecnologias científicas necessárias à exploração das terras raras, necessitando, portanto, de estabelecer parcerias com países e investidores estrangeiros que já avançaram no campo da exploração e uso.
Abre-se, assim, uma via de mão dupla, que pode ser de interesse elevado para os Estados Unidos, por exemplo, nesse momento em que o fim do tarifaço começa a ser discutido, mas também muito importante para o Brasil, pois poderá se valer de importantes parcerias para fazer acontecer a exploração de terras raras, dentro, evidentemente, de proteção legal brasileira.
Trump e Estados Unidos sabem muito bem do que o Brasil pode lhes oferecer nessas negociações e isso poderá acontecer de maneira civilizada e proveitosa para as duas partes, pondo fim a um desnecessário enfrentamento que o próprio Trump disparou.
Sabem eles, deste modo, que nesse universo de 21 milhões de toneladas de terras raras que o Brasil guarda ainda praticamente intocadas, nossa presença em alguns dos minerais desse conjunto é quase suberana. Quando falamos do Nióbio, por exemplo, o Brasil dispõe de 94% das reservas mundiais, quase, desse modo, a totalidade do planeta. E é o Nióbio, por suas propriedades únicas, como a alta resistência ao calor e à corrosão, elemento crucial em variados segmentos industriais modernos, com aplicações em grandes estruturas como pontes e viadutos, e em equipamentos de alta performance, como as turbinas de aviões.
E é também material inseparável, do qual se exige sempre maior presença, em novas tecnologias, como o desenvolvimento de baterias de carregamento ultrarrápido, na fabricação de aceleradores de partículas e equipamentos médicos, a exemplo de ressonância magnética.
O Nióbio é a grande descoberta da evolução científica recente, com aplicações crescentes nos mais variados campos da indústria moderna. Graças a ele, hoje são produzidas superligas metálicas que suportam altíssimas temperaturas, essenciais para motores de foguetes e aviões. É o Nióbio, igualmente, que faz aumentar a performance de baterias de lítio, permitindo recargas ultrarrápidas (em menos de 10 minutos), com maior durabilidade e tempo de utilização. Também é usado em catalisadores para a indústria química e petroquímica. Sua aplicação tem sido notada relevante na produção de vidros especiais, lentes de câmaras, telas de laptop, supercapacitadores e supercomputadores.
Há, em face dessa realidade favorável ao Brasil, que as autoridades norte-americanas ficarão no lucro se entenderem que é melhor continuar amigas desta nossa Nação que tem sempre mais a oferecer aos habitantes e ao mundo inteiro.
Por José Osmando