Não foi o suficiente os estadunidenses terem se encantado com as delícias da manga do Vale do São Francisco e do mel orgânico produzido em fartura no sertão do Piauí. Frutas e mel ficaram fora da lista de exceções estabelecida pelo decreto do Presidente Donald Trump e terão que pagar tarifas de 50% por tudo que entrar nos Estados Unidos a partir de 6 de agosto.
Isso mesmo, a manga de baixíssimo teor de fibras, sem fiapo, à qual os norte-americanos se renderam e fizeram dessa fruta um ítem quase obrigatório em suas mesas, dificilmente voltará aos lares daquele país, assim também como as uvas, também produzidas no Vale do São Francisco.
Dados do Observatório da Manga, da Embrapa, demonstram que 92% das mangas produzidas no maior polo de fruticultura irrigada do Brasil vão para a exportação. Apenas em 2024 o país exportou 258 mil toneladas de manga,com um faturamento de US 349,8 milhões (cerca de R$ 1,95 bilhão).
O Polo Fruticultor do Vale do São Francisco contou ao longo da história iniciada nos anos 1970, com a parceria e notável contribuição de empresas e núcleos de ciência dos Estados Unidos. Muitos bons cientistas do ramo agrícola e cabeças iluminadas do universo tecnológico deixaram o Vale do Silício, nos EUA, e vieram se instalar nessa região, entre Pernambjuco e Bahia, contribuindo para a consolidação desse que se tornou o maior polo irrigado do Brasil.
Ironicamente, agora chega, também dos Estados Unidos, mas pela via inversa, pela contra-mão, a decisão de praticamentre inviabilizar as atividades desenvolvidas no Vale do São Francisco, pois as frutas (sobretudo mangas e uvas) estão lotando as copas das árvores, esperando para serem colhidas, colocadas em conteiners e tansportados para o paladar dos estadunidenses.
Mas, pelas adversidades impostas, e não tendo mercado local que absorva a capacidade produzida, o destino de muitas mangas será apodrecer nos pés e jogadas fora.
Pela mesma sangria passam os produtores de Mel do sertão piauiense, de uma vasta região entre os municípios de Picos e São Raimundo Nonato, que viram nos últimso 15 dias mais de 152 toneladas do propduto deixarem de ser exportadas para os Estados Unidos, num prejuízo, só agora, de quase R$ 3 milhões. Os contratos com importadores americanos existem, mas o tarifaço impede o transporte.
E se, a exemplo das frutas, no curso das negociações entre o governo brasileiro e o governo norte-americano, o Mel também não seja retirado do rol de taxação até 6 de agosto, as consequências serão desastrosas.
Além das frutas e do mel, os industriais do setor sucro-alcooleiro também passam por severas dificuldades, apreensivos para saber como poderão exportar o etanol da cana-de-açúcar para os Estados Unidos, um destino historicamente importante para essa produção. E não apenas o etanol, mas também o açúcar entrou na lista de tributação de 50%.
Essa medida vai afetar duramente os Estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas, três dos maiores produtores de cana-de-açúcar do Nordeste, que cuidam da industrialização de açúcar e etanol e os exporta para os EUA. Mas afetará outros Estados nordestinos de produção menor, como Ceará, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte , Piauí e Sergipe. Ou seja, trará prejuízos à totalidade dos Estados do Nordeste.
Quem vive na região sabe muito bem a intensidade dos danos econômicos e sociais causadas por essas barreiras à exportação, com resultados bastante previsíveis de desemprego em massa nesses segmentos e até mesmo paralisação de atividades industriais.
Por José Osmando