A prisão do banqueiro Daniel Vorcaro e mais quatro dirigentes bancários, feita nesta terça-feira pela Polícia Federal, e na sequência a decretação extrajudicial da liquidação do Banco Master, interrompendo suas atividades, também feita hoje, pelo Banco Central, constituem apenas a retirada de mais um fio da meada exposta pela Operação Carbono Oculto, realizada no final de agosto em São Paulo e que detectou a presença do crime organizado em operações financeiras em prática na Faria Lima.
Já durante aquela megaoperação feita pela Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal, COAF do banco Central, Ministério Público e outras instituições, descobriu-se que o Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, mantinha vínculos financeiros com empresas gestoras da tal operação Carbono Oculto, citando-se na época a Reag Investimentos e a Trustee DTVM. Tais operações, segundo confirmariam as investigações, consistiam basicamente na lavagem de dinheiro, adulteração de combustíveis e ocultação de patrimônio, com intrínsecas ligações com o Primeiro Comando da Capital, o PCC.
O fio que hoje foi puxado da meada que a operação Carbono deixou, serve para tirar a máscara dos dirigentes do Banco Master e de seus fortíssimos apoiadores, muitos deles com posições confortáveis dentro do ambiente político, e a deixar transparente que ‘oculto’ naquela enorme batida policial não era apenas o Carbono. Mas que outras mazelas e crimes estavam escondidos nas operações comerciais e financeiras que esses grupos realizavam, muitos deles muito bem instalados no coração econômico do país, a Avenida Faria Lima, onde se descobriu a presença de pelo menos 40 organizações que funcionavam de maneira delituosa no formato de Fintechs.
As reações que setores diversos do mundo financeiro, alguns camuflados de empresários, outros tantos amparados por mandatos legislativos, que se posicionaram a partir daí contra a Polícia Federal e a Receita Federal, sobretudo, foi algo assustador. E nesse conjunto de esforços agora desmascarados, temos visto a insistência com que parlamentares ativos no Congresso tentam melar o projeto de lei Antifacção, que o Governo submeteu ao Legislativo, na tentativa de retirar poderes econômicos e operacionais da Polícia Federal e da Receita Federal. Querem que a PF passe a se submeter às ordens de governadores estaduais, quebrando o arcabouço constitucional que reveste essa instituição respeitada, submissa apenas ao Governo Federal.
Enfim, querem enfraquecer a Polícia Federal, e também a Receita, para que deixem de ter a autonomia e a capacidade técnica de realizar todas as operações policiais que se fizerem necessárias no trabalho de desmantelar as organizações criminosas que atuam, muitas vezes com a anuência e o apoio de gente do mundo político.
Chama bastante atenção nos desdobramentos que se dão a partir de hoje, com a prisão do dono do banco Master e de outros quatro diretores, que um dos principais envolvidos nesses esquemas fraudulentos seja o Distrito Federal que, por recomendação pessoal de seu governador, injetou nada menos do que R$ 16,7 bilhões nessa instituição que tem agora sua falência decretada.
Toda essa gigantesca montanha de dinheiro saiu dos cofres públicos da Capital da República apenas nos anos de 2024 e 2025. Coisa recente. Enquanto o Master recebia a dinheirama toda, o governador Ibaneis Rocha, insistia na compra do banco Master pelo BRB (Banco Regional de Brasília), instituição oficial do governo distrital. O negócio só não foi concretizado porque o Banco Central barrou a negociação, por já ter certeza das falcatruas existentes.
Conforme as investigações, o Banco Master emitiu R$ 50 bilhões em certificados de depósito bancário (CDBs, um tipo de título financeiro) prometendo juros acima das taxas de mercado e sem comprovar que tinha liquidez, ou seja, que conseguiria pagar esses títulos no futuro. Para reforçar essa impressão de liquidez, o Master aplicou parte do dinheiro dos CDBs em ativos que não existem, comprando créditos de uma empresa chamada Tirreno.
E aí vem o problema: O Master não pagou nada por essa compra, mas logo em seguida vendeu esses mesmos créditos ao BRB – que pagou R$ 12,2 bilhões, sem documentação, para “socorrer” o caixa do Banco Master. O seja, o banco do Governo do DF socorreu o banco fraudulento e essas transações aconteceram e tiveram sequência no mesmo período em que o BRB tentava comprar o próprio Banco Master – e convencer os órgãos de fiscalização de que a transação era viável e não geraria risco aos acionistas do BRB, incluindo o governo do DF.
As conclusões a que chegam os analistas dessa encrenca envolvendo o banco Master levam ao entendimento de que as investigações nascidas com a Carbono Oculto e agora avançadas, vão expor os tentáculos políticos aos quais Vorcaro estava abraçado, pois se diz que várias operações com o banco foram fechadas por pressão de autoridades do mundo político, entre elas governadores, senadores e deputados com influência em instituições financeiras e fundos de pensão.
Aguardemos o que pode vir por aí.
Por José Osmando













