A prisão, nesta semana, do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado Rodrigo Bacellar, pela Polícia Federal, deixa transparecer, além dos objetivos policiais em si propostos, que as organizações criminosas entraram definitivamente no mundo política brasileiro.
O presidente do legislativo carioca- um político poderoso, que chegou à presidência da Casa pela unimidade de votos dos deputados e era considerado o candidato a governador escolhido pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, e pelo atual governador Cláudio Castro-, foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, sob “fortes indícios” de ter participação em organização criminosa no Estado.
Rodrigo Bacellar foi preso na manhã da quarta-feira durante a operação Unha e Carne, da PF, suspeito de ter vazado informações sigiliosas da Operação Zargun, deflagrada em setembro, durante a qual foi preso o deputado estadual TH Joias. Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias, foi levado à prisão por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas e munições com o Comando Vermelho, a mais poderosa Organização Criminosa em operação no Rio de Janeiro.
De acordo com o despacho do ministro Alexandre de Moraes, o presidente da Alerj estaria atuando ativamente para a “obstrução de investigações envolvendo a facção criminosa e ações do crime organizado, inclusive fazendo uso da influência e força junto ao poder Executivo do Rio”.
Esta prisão de Rodrigo Bacellar não é o primeiro sinal da infiltração do crime organizado na política partidária, hoje, de modo definitivo, uma das mais graves ameaças já impostas à democracia brasileira.
Se antes esses organismos do crime estavam presentes na limitação e controle de territórios habitados por populações pobres, vulneráveis, de difíceis condições de vida, como se dá há anos em dezenas e dezenas de comundiades do Rio de Janeiro, hoje a atuação dos criminosos avança sobre o próprio Estado, buscando o controle institucional das decisões do poder e pondo a mão, de modo crescente, sobre os recursos públicos que serviriam às populações mais necessitadas.
Quando ocorreu, em agosto, a Operação Carbono Oculto, em sete Estados do País, especialmente no Sul e Sudeste, mas com peso extraordinário no Estado de São Paulo, pode-se constatar a presença forte e organizada do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa que disputa em vigor e tamanho com o Comando Vermelho, esse com mais forte atuação a partir do Estado do Rio.
Na Carbono Oculto, descobriu-se que o PCC vinha não apenas atuando na montagem de uma rede criminosa de falsificação e venda de combustíveis, com mais de 1 mil postos de distribuição envolvidos, na montagem de um vigoroso esquema financeiro dentro da Avenida Faria Lima (o coração financeiro do país), com mais de 40 postos de operação através de Fintechs.
E já naquele momento, além de atuarem com estrutura empresarial sofisticada, com uso de novos mecanismos financeiros como as Fintechs,os cenários com que a polícia se defrontou configuravam a presença de representantes do crime eleitos para cargos no Legislativo e Executivo em vários pontos do Estado.
Deu-se no país, depois desses episódios policiais de grande dimensão, um alvoroço terrível no ambiente político. Primeiro, viu-se a Câmara Federal de Deputados movimentar-se de modo quase unânime, numa velocidade jamais presenciada, para aprovar uma tal PEC da Blindagem, que protegia de medidas judiciais qualquer integrante do Congresso, que só poderia ser atingido se houvesse prévia autorização das casas legislativas, por qualquer crime que tenham cometido.
Apelidada pelos opositores e pelos movimentos sociais de PEC da Bandidagem, o projeto aprovado na Câmara foi derrubado no Senado, depois de uma intensa movimentação de ruas promovido pela população em Setembro.
Na sequência, inconformados pelo fato de que a PEC da Blindagem não tenha vingado, a mesma Câmara dos Deputados mutilou de maneira escancarada o projeto encaminhado pelo Poder Legislativo que pretendeu dar ao país uma Lei Antifacção, exatamente para oferecer a instrumentalização legal no combate às organizações criminosas e impedir o seu avanço pelo país. O projeto governamental sofreu transformações radicais, sobretudo no interesse dos deputados de retirar poderes constitucionais da Polícia Federal e da Receita. Se dependesse dos deputados, a PF só poderá atuar em determiando Estado da Federação se tiver a prévia autorização do governador do Estado, mesmo em casos em que governantes estejam envolvidos com os crimes a serem combatidos e investigados.
Ainda nesta semana a Agência Brasileira de Inteligência fez um alertta sobre os riscos que as organizações criminosas, reunidas no modelo de facções, poderão trazer às eleições gerais de 2026, quando o país vai eleger Presidente da República, Governadores de Estado e parlamentares integrantes do Senado, da Câmara e das Assembleias Legistivas Estaduais. Tudo isso porque o crime organizado está pronto para burlar a inteligência financeira estruturada pelos órgãos federais, fugindo do rastreamento dos beneficiários finais de doações particulares e empresariais durante a campanha, visando favorecer a eleição de representantes do mundo da ilegalidade para postos ofialmente legais, sobretudo dentro do legislativo, de onde passam a exercer influência sobre outros poderes.
Por José Osmando













