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População sem teto está crescendo e tomando as ruas de cidades da Europa | José Osmando

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Um drama que até poucos anos só era visível em países da América Latina- nisso incluindo o Brasil, evidentemente-, e em nações muito pobres e mergulhadas em conflitos armados na África e Ásia, agora está bastante presente na Europa, com o agravante de que se trata de uma realidade em  progressão. 

Refiro-me às populações de rua, caracterizadas por massas humanas sem emprego e sem teto, uma condição que vem obrigando governanças de muitos países considerados ricos e mudarem o foco de suas atenções e a repararem com urgência um acontecimento que pode se tornar irremediável.

Um estudo que acaba de ser revelado, produzido pelo Núcleo de População em Situação de Rua, do Insper (instituição sem fins lucrativos, dedicada ao ensino e pesquisa nas áreas de negócios, economia e direito), registra que a estimativa de pessoas em países europeus que já se encontram nessa condição já se aproxima das 900 mil (895 mil no último levantamento), e vem num crescendo verdadeiramente preocupante.

E não estamos falando de nações pobres, mas de nações que se apresentam ao mundo como ricas e desenvolvidas, com elevado padrão social, como a Alemanha, por exemplo, onde os moradores de rua, entre 2012 a 2017 tiveram um aumento de 150%; na Áustria, de 21%, na Irlanda, de 203%, entre 2014 e 2018; na Inglaterra, de  162%, entre 2010 a 2018; na Holanda, de 71,3%, entre 2009 a 2016 e na Bélgica, de 30%, entre 2002 e 2012.

Para que se tenha uma ideia da gravidade desses acontecimentos entre países europeus, basta lembrar que o Brasil- que há décadas sustenta essa inadequada condição-, o contingente de população de rua atual é da ordem de 335 mil pessoas, conforme o Cadastro Único (CadÚnico) de 2025. Esse conjunto de países da Europa já leva às suas ruas quase três vezes mais dos que assim sobrevivem em território brasileiro.

Em recente painel realizado por especialistas e agentes governamentais para analisar essa situação no mundo, verificou-se que na Europa,  apenas a Finlândia apresentou melhora, com decréscimo das populações de rua. 

Países desenvolvidos, além da União Europeia e Austrália, como os Estados Unidos, têm observado o aumento de populações  sem teto, mesmo antes da pandemia da Covid-19.

E esse fenômeno, surpreendente para alguns desses países, está mobilizando dirigentes no esforço de barrar os avanços e oferecer soluções para o problema já instalado. 

Obviamente, além das questões econômicas, de desigualdade e injustiça social, com a concentração de renda se robustecendo nos cofres dos mais ricos, em detrimento das demais camadas da população, o desencadeamento dos problemas trazidos pelo aumento no consumo de drogas entrou no radar de observações.

Assim como na Europa a incidência de moradores de rua tem se manifestado em países ricos, também no Brasil isso começa a ser registrado em regiões e Estados de melhor condição econômica, com aumento dos sem-teto no Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde a taxa por mil habitantes já é de 1,2, enquanto em Estados como Pernambuco, Rondônia e Paraíba, essa taxa cai para 0.5, menos da metade de unidades federativas mais ricas.

Embora não se possa relegar a possibilidade de que as drogas têm algum grau de influência na geração de morares de rua, há lá fora uma percepção errada em relação às causas, quase não se admitindo que pessoas são atingidas pela desigualdade econômica, pelo desnível social, pela falta de emprego e por outras razões de desamparo que as levam para situações extremadas como essa de buscar as ruas.

Uma pesquisa feita na Austrália revela que 91%  da população, em geral, afirma que o vício em drogas é o principal motivo pelo qual as pessoas estão em situação de rua. No contraponto dessa questão, entretanto, quando se pergunta a moradores de rua porque estão naquela situação, apenas 10% dizem que o uso de drogas é a principal razão de haverem se tornado sem-teto.

O fato é que mesmo na Europa essa questão social grave só começou de fato preocupar autoridades nos anos mais recentes. 

Só em 2022 a Federação Europeia de Organizações Nacionais que trabalham com Pessoas em Situação de Rua fez o seu primeiro estudo, chegando àquele universo de 895 mil sem-teto. E nesse mesmo ano a Alemanha, individualmente, também realizou pesquisa, que chamou de seu primeiro censo nacional de população de rua, encontrando 84,5 pessoas nessas condições. Na Espanha, os números encontrados em 2022 foram de 28,5 moradores, um crescimento de 24% em relação a 2012.

Uma constatação preocupante sobre os moradores de rua que os especialistas estão apontando, é que em cidades pequenas as pessoas atingidas por alguma vulnerabilidade, como depressão ou outro tipo de adoecimento mental, tem a possibilidade de contar com vínculos mais próximos dentro da própria comunidade, daí superando dificuldades momentâneas, ao contrário do que acontece nos grandes centros urbanos. Aí impera o domínio da indiferença e da hostilidade, o que só faz agravar as situações pessoais e de grupos.

Por José Osmando

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