Ao tomar conhecimento, hoje, de que a líder da aviação comercial civil, a fabricante europeia Airbus aplicou nova derrota à sua tradicional e arquirrival norte-americana Boeing, ao colocar o seu modelo A320 como o mais vendido no mundo, superando o Boeing 737, sou forçado a lembrar o que governantes brasileiros tentaram fazer, em passado recente, contra a nossa modelar empresa Embraer.
Hoje voando em céu de brigadeiro, com a entrega de aviões crescendo 18% só neste ano de 2025, projetando atingir a venda de até 240 aeronaves comerciais e executivas na medida em que segue ampliando sua produção e concretizando negócios em todas as direções do mundo, a Empresa Brasileira de Aviação já esteve à beira de ser entregue a preço vil a essa mesma fabricante norte-americana agora superada pela europeia Airbus.
Isso ocorreu a partir de 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu o governo brasileiro e vendeu a Embraer à Boeing num negócio avaliado à época em US$ 4,2 bilhões, o que significaria entregar o controle e 80% do capital da empresa aos norte-americanos.
Era uma operação montado pelo todo poderoso ministro da economia, Paulo Guedes, que só não foi concretizada porque a Boeing, envolvida com acidentes em seu modelo 737 Max e já à época passando dificuldades e enfrentando crise de credibilidade, desistiu da operação e cancelou, unilateralmente a compra. Por conta dessa desistência, a Boeing seria, em acatamento a reclamação da empresa brasileira, sancionada pela Suprema Corte americana, a pagar US$ 150 milhões à Embraer como forma de indenização.
Como dizem que “Deus é brasileiro”, a vontade de Bolsonaro e Paulo Guedes não foi satisfeita e a Embraer voltou aos poucos a operar de modo executivo exemplar, mantendo-se como forte aliada do Governo Federal, embora seja uma empresa privatizada desde 1994. Para que se tenha uma ideia do tamanho da Embraer e da pequenez que o governo passado lhe impôs, ao vendê-la à Boeing pelos inexpressivos US$ 4,2 bilhões, somente uma venda de aeronaves que o Presidente Lula ajudou a concretizar com a japonesa All Nippon Airways, em julho passado, totalizou US$ 10 bilhões de retorno para o Brasil.
Mais recentemente, a Embraer firmou dois acordos importantes com empresas norte-americanas. Em setembro último efetivou a venda de 50 jatos E195-E2 para a companhia aérea Avelo Airlines, em um contrato de US$ 4,4 bilhões, e outra vendeu uma aeronave de treinamento militar A-29 Super Tucano para a Sierra Nevada Corporation (SNC).
Só esta venda de 50 jatos para empresa doméstica dos EUA tem valor superior ao negócio suspeito que o governo anterior fizera com a Boeing.
No balanço que a Embraer divulgou no final de julho último, informa-se que a Embraer entregou no segundo trimestre deste ano 61 jatos comerciais e bateu um recorde histórico de encomendas na sua carteira de pedidos, avaliado em US$ 165,4 bilhões. Isso mesmo: 165 bilhões de dólares apenas em vendas, que se comparados aos US$ 4,2 da venda do patrimônio total da empresa para a Boeing, dá bem a dimensão da esperteza que se tentou aplicar ao país.
As previsões da empresa brasileira para este ano incluem entregas de 77 a 85 aviões comerciais, um aumento em relação às 73 registradas em 2024, enquanto as entregas de jatos executivos foram estimadas entre 145 e 155, acima das 130 do ano passado.
Vê-se, em face dessas demonstrações, que a Embraer é uma verdadeira joia, que concretiza muitos dividendos para o Brasil, e tem se firmado, além do aspecto comercial, como uma das quatro mais eficientes fabricantes do planeta, situando- se na vanguarda da sustentabilidade com seu jato E2, que reduz o consumo de combustível e as emissões de CO2, e com projetos em adiantado estágio para a produção, de VTOLs (veículos de decolagem e aterrissagem vertical), numa extraordinária contribuição à mobilidade urbana. Permite que essas aeronaves tenham a capacidade de decolar e pousar de forma perpendicular no solo, sem necessidade de pista de pouso.
O mais surpreendente de toda essa história, que infelizmente passa zerada no radar de grandes meios de comunicação e da descomprometida atitude do Congresso brasileiro, é que Bolsonaro, em face do pé atrás colocado pela Boeing, que desfez o negócio, continuou insistindo na venda da Embraer para outros grupos empresariais de fora do país.
Em agosto de 2020, durante uma entrevista, anunciou que” se o negócio for realmente desfeito, vamos começar negociação com outra empresa, porque essa decisão cabe a mim.”
O bom para a Embraer e o orgulho brasileiro, é que o negócio não aconteceu, e que Bolsonaro já não é o Presidente da República que achava que tudo podia.
Por José Osmando