Os meios financeiros paulistanos, a partir do gigantesco palanque armado na Faria Lima, ficaram em alvoroço nessa quinta-feira, na tentativa de digerir o pacote de medidas fiscais anunciado na véspera pelo Governo.
O invisível e temeroso mercado chegou mesmo a lembrar com saudades dos idos de 2002, quando o dólar chegou a bater R$ 8,75, na mais aguda desvalorização do real. Isso porque, no dia de ontem, o dólar ultrapassou os R$ 6,00 e o índice Bovespa caiu na casa dos 125 mil pontos. O euro comercial foi a R$ 6,32.
Assim, a expectativa de que os ativos locais teriam uma reação negativa às medidas fiscais anunciadas pelo governo se materializaram por completo na sessão da bolsa dessa quinta, reforçando neles a percepção de que os riscos fiscais aumentaram — em vez de diminuírem — após a divulgação do pacote.
Esse ambiente de inquietação e incerteza não parece ser um problema, mas até mesmo sinal de entusiasmo para esses que defendem e lutam por taxas de juros sempre mais elevadas, por ser isso um mecanismo eficiente de ganhos financeiros nessa ciranda que eles constroem para o mercado.
Tanto isso é verdade, que logo saíram às redes os interlocutores desses especuladores, negocistas, para prever que na próxima sessão do Copom, a ser realizada nos dias 10 e 11 de dezembro, deve ser elevada a Selic em 1 ponto, fazendo os juros chegarem no primeiro semestre de 2025 acima dos 14% ao ano.
Isso acontecendo, a economia brasileira pode interromper um ciclo de avanço que há dois anos vem experimentando, assim afetando sobretudo a produção industrial, com ameaças graves à volta do desemprego e à redução do consumo pelas famílias brasileiras.
Desse modo, o governo fica enfraquecido. E quanto mais debilitado, mais forças perderá dentro do Congresso para fazer aprovar as reformas fiscais apresentadas, e também as medidas favoráveis aos trabalhadores e à classe média, como a isenção do imposto de renda para cerca de 38 milhões de contribuintes que ganham até R$ 5 mil ao mês.
E todo esse empenho que o mercado demonstra contra medidas sociais, esconde o objetivo claro: impedir que as grandes fortunas do país sejam tributadas. E não entrando elas no radar fiscal, o governo não tem de onde tirar dinheiro para bancar suas ações em favor dos mais vulneráveis. Simples assim.
Por José Osmando