O Presidente Lula está confirmando uma atuação marcante no cenário mundial, ao abrir, ontem, a Assembleia-Geral da ONU, com um discurso sereno, vigoroso e repleto de críticas ao papel vacilante da Organização das Nações Unidas, com atuação divorciada da realidade do mundo, diante do avanço das guerras, da proliferação da fome em todas as partes do planeta, das graves condições climáticas.
A fala do presidente brasileiro não teve apenas o tom das necessárias críticas ao enfraquecimento das Nações Unidas, mas conteve um elenco de ideias que, se aplicadas, serão capazes de mudar o perfil da organização no mundo. É nessa linha que ele pregou uma ampla reforma da carta fundadora da ONU, para cumprir objetivos impostos pela realidade atual, num mundo transformado e transtornado em face do recrudescimento de graves ameaças.
Assim, Lula listou a necessidade de transformação do Conselho Econômico e Social em Fórum para o tratamento do desenvolvimento sustentável e do combate às mudanças climáticas, “com capacidade real de inspirar as instituições financeiras”, e a revitalização do papel da Assembleia Geral, inclusive em temas de paz e segurança internacionais, fortalecendo a Comissão de Consolidação da Paz.
Nas propostas que expôs ontem aos líderes mundiais reunidos na abertura da Assembleia-Geral, o presidente brasileiro propôs a reforma do Conselho de Segurança, com foco em sua composição, métodos de trabalho e direito de veto, “de modo a torna-lo mais eficaz e representativo das realidades contemporâneas”, e sustentou que a exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial.
Lula sugere que todas essas propostas possam ser levadas de forma transparente em diversas consultas no G77, no G20, no BRICS, na CELAC, no CARICOM, entre os muitos espaços à disposição dos líderes mundiais, e disse não ter ilusões sobre a complexidade de reformas como essas, que enfrentará oposição de interesses cristalizados de manter as inaceitáveis condições atuais. E disse que essa tarefa “exigirá enorme esforço de negociação, mas que essa é a nossa responsabilidade.”
Lula foi bastante aplaudido quando reclamou que até hoje, nos seus 79 anos de existência, a ONU nunca tenha sido dirigida por uma mulher.
Ao defender uma reforma da Carta da ONU que assegure uma nova governança global, uma clara necessidade que se transforma exigência crescente pelo agravamento de tragédias, o Presidente Lula afirmou que não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, “ para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança.”
O discurso de Lula fundou-se em quatro pontos básicos: o combate à fome no mundo, assunto no qual, aliás, o Brasil avança com sua proposta de Aliança Global a ser votada em novembro, no G20, no Rio de Janeiro; financiamento, pelos países desenvolvidos, para que os países pobres possam fazer face às crescentes mudanças climáticas e restauração ambiental; o fim dos conflitos armados, que são, desde 2023, os mais severos desde a Segunda Guerra, e as reformas à Carta, que se fazem urgentes e necessárias em face das transformações negativas que o mundo tem vivido.
Por José Osmando