A manifestação do Presidente Lula, no seu discurso de abertura da cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, nesse fim-de-semana, segunda a qual “é sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, faz todo sentido, nessa etapa política que o mundo vive, muito certamente, nos últimos meses, fortemente influenciada pelo comportamento que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem adotado desde que chegou ao seu segundo mandato à frente da Casa Branca.
Essa análise compreende duas visões claras sobre as possibilidades de que os conflitos mundiais se agravem de modo exorbitante.
A primeira diz respeito ao modo como Trump faz uso sistemático da sua tática de imprevisibilidade, assustando o mundo não apenas com seus rompantes e ameaças, mas com medidas concretas, como a taxação sobre outros países a produtos que exportam para os norte-americanos.
Desde que tomou posse, Trump elevou suas imprevisibilidades ao status de doutrina política. Há uma lista desses descompassos, começando pelos insultos ao vizinho e historicamente amigo Canadá, afirmando que esse país deveria se tornar o 51º estrado norte-americano. Claramente, uma ameaça de invasão para tornar seu o território canadense.
Na sequência de sandices, disse que estava preparado para usar força militar para anexar a Groelândia, um território autônomo da Dinamarca, também um histórico aliado dos EUA.
E não satisfeito por seu imperial ímpeto de expansão, fez declarações públicas ameaçando retomar a propriedade e o controle do Canal do Panamá, importante via de exportação mundial, que está sob o domínio do estado panamenho desde o ano de 1999.
Nesse seu afã desmedido, Trump foi pra cima da OTAN, ao afirmar que o Artigo 5 da carta da organização, “comprometendo cada membro a defender todos os outros”, estava, segundo ele, “sobrevivendo por aparelhos”.
E conforme mensagens vazadas conheceu-se o desapreço que a Casa Branca de hoje mantém sobre seus aliados europeus. Isso fica explícito na fala do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que disse compartilhar “nojo de aproveitadores europeus, classificando-os de “patéticos.”
Para espanto nosso, o pior é que essa imprevisibilidade de Trump, de nunca se saber o que ele vai dizer ou fazer, se o que ele diz é para ser levado a sério ou não, ou se trata apenas de uma nova moeda de troca, de ameaçar para ter lucros nas negociações que se darão no outro dia, está produzindo o efeito que o mundo não desejava.
No mês passado, durante uma cúpula da OTAN, ficou decidido que os gastos dos países membros com Defesa e Segurança fossem aumentados para 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Meses antes, o premier britânico Keir Starmer, fez uma fala no Parlamento e anunciou que os gastos com esses itens passariam de 2,3% para 2,5% do PIB. Agora, depois do que a OTAN decidiu, o percentual de aplicação em armamentos de proteção passa a ser igualado em 5%.
A propósito, na sua fala deste domingo na cúpula do BRICS, o Presidente Lula fez dura crítica, diante de importantes líderes mundiais: “É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política. É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”.
E se alguém, inclusive o Presidente Lula, pudesse esperar comportamento diferente de Donald Trump, veio imediatamente a reação dele como resposta: “Qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas do BRICS terá de pagar uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceção a essa política.”
Por José Osmando