A produção industrial brasileira apresentou crescimento em todas as categorias de tecnologia, com aumento disseminado em todo o primeiro semestre, ocorrendo notável expansão em segmentos como material de escritório e informática, equipamentos de TV e comunicação, instrumentos e equipamentos médicos e ótica. Pela primeira vez nos últimos três anos a indústria de transformação mostrou expansão, num semestre inteiro, em todos os seus setores, sejam de alta tecnologia, sejam de média-baixa, como produtos de metal.
O estudo “Expansão Industrial por intensidade tecnológica: da exceção à regra”, apurou que na comparação desse último semestre com o do ano anterior, as altas nas produções de média e baixa tecnologias foram de 3,7% e na de alta tecnologia chegaram a 2,4%. Essa expansão generalizada não ocorria desde 2021.
Ao comemorarem as elevações nas taxas de crescimernto da produção industrial tecnológica, os empresários do setor mostram que esse crescimento se dá muito em conta da redução das taxas de juros ocorrida a partir de agosto do ano passado, e temem que uma nova onda de taxas Selic elevadas, como vem sinalizando o Banco Central desde o último mês de setembro, tenha efeito colateral danoso ao crescimento do setor, visto que encarece o custo do dinheiro e inibe as encomendas à indústria.
Se isso ocorrer, a elevação dos custos de capital para ramos industriais mais dependentes de crédito poderá motivar paralisação de muitas atividades, prejudicando o ciclo virtuoso que a economia vem apresentando, sobretudo no campo industrial. Uma elevação das taxas de juros agora, quando ocorre um aperto monetário severo por conta do câmbio em desaprumo e o dólar muito alto, deixa mais caros os insumos industriais importados, interrompenddo uma movimentação que a indústria brasileira vem realizando na busca de sua adequação tecnológica no mercado externo.
Todos os dirigentes do setor industrial, ao analisarem o quadro prolongado de estagnação do setor e compará-lo com o momento virtuoso por que estão passando agora – embora ainda não tendo ficado livres dos prejuízos acumulados em anos-, são unânimes em afirmar que juros Selic altos, como o Copom tem praticado, forçam a desaceleração das atividades, pois reduz as receitas, interrompe o ciclo de renovação tecnológica, tornando as nossas indústrias menos competitivas, além, obviamente, de desestimular os pedidos dos clientes.
E o primeiro setor a sofrer com isso é o de bens de capital, a indústria e máquinas e equipamentos, que agora está num momento bom, mas que pode desandar com a falta de crédito no mercado. E isso é uma sombra ameaçadorada, fazendo todos pensarem nos pesadelos que os acompanham com atividade negativa.
O Governo Federal tem feito significativo esforço para apoiar o setor industrial brasileiro, criando, através do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio diversos mecanismos de financiamento, sobretudo voltados para a renovação tecnológica. Só para o segmento de Modernização para o chamado Indústria 4.0, foram disponibilizados R$ 186 bilhões em investimentos, destinados a Inteligência Artificial, big data e internet das coisas. Estamos falando aqui da fabricação de chips, fibras óticas e robôs, instalação de datacenters, voltados para infraestrutura, máquinas e diversificação do parque tecnológico.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, tem mantido forte apoio ao financiamento do setor industrial, montando uma espécie de guarda-chuvas com os principais bancos privados, para atender ao máximo às necessidades de crédito do setor.
Esta semana, o BNDES anunciou que pela primeira vez na história as suas operações de crédito para a indústria são as maiores desde 2016, e já representam no momento 27% do total acumulado de crédito da institução. É a primeira vez, também, que esse volume de crédito ao setor industrial é superior aos financiamentos do agronegócio, que estão em 26% no acumulado do ano.
Por José Osmando