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Faroeste no Rio mata muito e impõe medo, mas não ataca a raiz da criminalidade | José Osmando

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O Brasil e o mundo estão sendo impactados pelo espetáculo de horrores que resultou dessa megaoperação policial levada a comunidades da antiga Capital Federal pelas forças policiais do Estado do Rio de Janeiro, sob o comando pessoal de seu governador, Cláudio Castro. Cadáveres e mais cadáveres desfilam aos nossos olhos, a cada momento aumentando de quantidade, sendo retirados das matas e colocados nus, em fileiras, nas passagens públicas, sob os aplausos de quem ordenou os combates, e espanto, revolta e questionamento dos que enxergam além do nariz.

Os números ainda não são oficiais- e talvez em nenhum momento possamos conhecê-los na sua totalidade-, mas já se fala em mais de  130 corpos abatidos, nisso incluindo integrantes e supostos aficionados de grupos criminosos, e quatro policiais militares e civis que também perderam a vida na troca de tiros.

Por todas as características com que essa operação policial no Rio de Janeiro estão revestidas, desde o planejamento à  execução, tem-se a nítida percepção de que se tratou de um desastre governamental, que escancarou o improviso e o populismo eleitoreiro na gestão da segurança pública,  sob o comando do governador Cláudio Castro.

Primeiro, numa operação que mobilizou o extraordinário contingente de cerca de 2.500 homens, não houve um mínimo de preocupação de se criar, previamente, um gabinete de crise, que fosse capaz de ter planos para suprir a desmobilização que essa quantidade de agentes policiais, retirados dos seus locais costumeiros de trabalho, causaria a milhares e milhares de habitantes que ficaram sem segurança em seus locais de moradia e trabalho.

Segundo, porque, com um gabinete de crise instalado, seria possível prever o que poderia acontecer após os combates serem iniciados, ante a possibilidade real, como de fato ocorreu, de que agentes do crime, ao serem atacados, revidariam, aumentando o tamanho da violência e levando as populações locais ao pânico e desamparo. Não existindo essas previsões lógicas de quem realmente faz planejamento sério, o resultado foi o aumento da vulnerabilidade coletiva, a massificação do medo e o comprometimento total da segurança pública da cidade durante todo o dia e noite de ontem.

Outro aspecto, muito apropriado a quem faz uso político-eleitoral de uma operação policial desse tipo, é a forma de abordagem feita por uma polícia que já chega atirando, executada, conforme dizem todos os analistas, por agentes generalistas, que foram na maioria recrutados de unidades sem qualquer especialidade e qualificação em operações de alto risco.

Tanto que um policial civil morto, Rodrigo Cabral, de pouco mais de 30 anos de vida, tinha entrado para Polícia fazia apenas dois meses. Foi jogado às feras com toda sua inexperiência.

O resultado disso, é que ocorreu nessa operação uma letalidade absurdamente elevada (a maior de toda a história de violência do Rio), instalando-se, aí, outro componente desastroso, que é o medo incutido na população, um elemento importante com que os populistas contam nos seus desejos eleitorais. O de trazer a população amedrontada, necessitando sempre da sua proteção.

Assim, o colapso no Rio durante e pós a operação foi pleno, afetando a vida de todo o mundo, do trabalho ao deslocamento dos ônibus e trens, do supermercado à escola das crianças.

Um fator que causa mais espanto, revelado com clareza nessa operação do Rio, é a sabotagem ao trabalho de inteligência, das investigações originais, dos verdadeiros alvos que se pretendeu atingir, até a execução. Pela lógica adotada no Rio de que organizações criminosas se combate com taques nas ruas, e tiros e bombas dentro das comunidades, o governo local está infelizmente mostrando que roda, roda, e está girando em torno do seu próprio esgotamento no aspecto técnico e operacional para enfrentar o crime.

E com isso, ao se negar, como se prova, a combater as organizações criminosas a partir de uma ação integrada com a esfera Federal (Polícia Federal, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas, Receita Federal, COAF, Banco Central), capaz de atacar o bolso e o cofre de quem financia a atuação do Comando Vermelho e outras facções e milícias, essa operação, deixando os poderosos do crime imunes ao ataque financeiro, termina prestando um grande serviço à criminalidade.

Istro sim. Porque não se teve nessa operação o abate/prisão de uma expressiva liderança das organizações criminosas. Entre os 64 que o Governo considera narco-terroristas, foram eliminados possíveis integrantes da base criminal-comercial, que caracteriza uma mão de obra barata e de fácil substituição. Mas os cabeças não foram atacados e voltarão amanha mesmo a dominar territórios e a comandar a delinquência nas comunidades e foram delas.

Quando o Governo Federal apresenta ao Congresso o projeto anti facção, que prevê até 30 anos de prisão para crimes de organização criminosa, ou quando o Ministério da Fazenda, com eficiência da sua Receita Federal, se une ao Banco Central, ao COAF, à Polícia Federal e ao Ministério Público para combater o crime organizado por sua força maior, que à capacidade de colocar dinheiro na alimentação da criminosidade, governantes como Cláudio Castro pulam fora. 

Nem mesmo o exemplo da Operação Carbono Oculto, realizada em São Paulo, que pegou a nata do crime plantada dentro das Fintechs, na poderosa Faria Lima, que está resultado em sucesso mesmo que nenhum tiro tenha sido disparado, pode servir de exemplo a convencer aqueles que só estão interessados nos palanques de 2026, assim, ao final, protegendo quem precisaria ser retirado de operação.

Por José Osmando

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