Neste último mês de setembro, 29,4% dos empresários da construção civil, ouvidos num levantamento realizado pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), apontaram a escassez de mão de obra qualificada no setor, registrada como a mais elevada no país desde 2014, um fator preocupante, pois passa a ser um limitador drástico para o desenvolvimento dos negócios.
Isso já havia se registrado há 10 anos, durante o período 2014 a 2016, quando o mercado imobiliário passou por um aquecimento expressivo, vindo de num lastro de crescimento abundante desde 2013, sobretudo graças a programas vitoriosos como o Minha Casa, Minha Vida, e as diversas obras edificadas no Brasil para recepcionar a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Nessa época era comum ver na imprensa empresas fazendo covocação de engenheiros recém-formados, ou promover a vinda de profissionais de outros países, atraídos por salários elevados que influenciaram, no final, o custo das produções. Agora, com o desemprego recuando para as menores taxas da história recente ( em setembro registrou apenas 6,4%, o menor nível para a série histórica do IBGE), o problema volta a se fazer presente, gerando inquietação para o empresariado, e também apreensão aos possíveis compradores de imóveis, pelo temor de aumento de preços.
Os empresários do setor imobiliário estão se movimentando para atenuar o problema, mas setorialmente podem fazer pouco. Uma dessas ideias, apontada como iniciativa em prática por 33,1% dos empreendedores ouvidos, é aumentar a remuneração, ou investir em treinamentos, uma ação que 51,5% dos empresários dizem estar executando. Muitos empresários afirmam estar realizando rodízio de equipes, para que as obras não sofram paralisação.
Contudo, os empresários encaram a falta de mão de obra qualificada como um problema sério, daí o esforço comum entre os integrantes do mercado imobiliário para contorná-lo. Preocupação maior, na outra ponta, diz respeito ao aperto nas regras de crédito e ao aumento dos juros, encarecendo seriamente o dinheiro que eles precisam tomar junto aos financiadores, porque isso, verdadeiramente, seria um inibidor decisivo ao aquecimento e um elemento impositor de preços sempre mais elevados junto ao consumidor.
A visão que eles têm, quanto à mão de obra qualificada, é que a soma de esforços entre os agentes do mercado e os gestores do Governo, sobretudo do governo federal, pode resultar em programas consistentes de treinamento, qualificação, requalificação, enfim, de preparação mais adequada e elevada de profisissionais que estão hoje fazendo falta no setor. Ao contrário, contra juros altos e falta de crédito no mercado, quase nada pode ser feito.
O crescimento da construção acolheu em setembro 17 mil trabalhadores com carteira assinada, um acontecimento que tem sido frequente, continuado. Em abril deste ano, um levantamento feito pela Câmara Brasieira da Construção Civil em 800 empresas, já diagnosticava que 7 entre 10 construtoras já acusavam a escassez de mão de obra qualificada, fenômeno que segue acontecendo. A pesquisa Caged aponta que nos cinco primeiros meses deste ano o saldo líquido de contratações com carteira assinada está em 7%, superior ao registrado em 2023, quando já apresentava crescimento.
Isso tende a aumentar, pois as vendas de imóveis continuam superando todas as expectativas, carregadas especialmente por programas governamentais como o Minha Casa, Minha Vida, que foi relançado em novo ciclo e está atraindo muitos compradores.
Nos grandes centros, principalmente, já há grande dificuldade para contratar mestres de obra, pedreiros, eletricistas, carpinteiros e especialmente engenheiros.
Não há indicações de que essa escassez sofra baixas no mercado imobiliário. Em razão disso, os empresários estarem exercitando o malabarismo que lhes sobra, de fazer treinamentos, realizar rodízios, e buscar parceria govermanetal para um violume maior de qualificação de mão-de-obra.
Por José Osmando