Enquanto nos Estados Unidos – a partir da posse de Donald Trump na Presidência do país, em 20 de janeiro-, abre-se uma caçada implacável aos imigrantes estrangeiros, num tsunami sobre 11 milhões de pessoas que o governo considera viverem ilegalmente em seu território, entre as quais milhares de brasileiros, o Brasil dá demonstrações de acolhimento, numa prática oposta ao que o novo governante norte-americano pretende.
Uma prova notável dessa diferença encontra-se no estudo divulgado hoje pela Federação do Comércio de São Paulo -FecomércioSP, revelando que em 2024 o mercado de trabalho formal brasileiro registrou o ingresso de mais de 70 mil estrangeiros, a maioria formada por latino-americanos, com destaque para venezuelanos e haitianos, e tendo como principal fonte de contratação os setores industriais de São Paulo e Santa Catarina.
Esse quadro- demonstrativo das diferenças de tratamento aos imigrantes nos dois países-, reflete não apenas o espírito acolhedor que o Brasil sempre demonstrou ao longo da história, mas expressa, de maneira visível, o ótimo momento do mercado de trabalho brasileiro (com menor taxa de desemprego da série histórica, um recorde de apenas 6,6%, de acordo com o IBGE), com incidência direta sobre vários outros vários aspectos, como aumento da massa de salários e da média de renda da população, e elevação significativa do consumo das famílias.
O levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) está baseado nos dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e mostra que, somente em 2024, cerca de 71 mil postos celetistas foram abertos e preenchidos por pessoas de fora do País.
Este é o maior volume para um único ano desde que o Caged mudou sua metodologia, em 2020, o que significa um avanço de 50% em relação a 2023, quando pouco mais de 47,3 mil vagas foram atendidas por estrangeiros.
Tal resultado coloca o Brasil numa posição de liderança na região, com um forte papel de integração regional, diferentemente, também, da posição isolacionista que pode colocar os Estados Unidos numa situação de perigo em relação ao resto do mundo, sob uma liderança autoritária e dominadora expressa por Donald Trump nas suas atitudes, atos administrativos e falas de retaliação a diversos países do mundo.
As informações da FecomércioSP indicam que em 2023, com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), 44% da mão de obra do exterior no mercado formal de trabalho do Brasil era de cidadãos da Venezuela no fim daquele ano — muito à frente, inclusive, do segundo país da lista, o Haiti, com 44,7 mil postos. Essa tendência se manteve ao longo de 2024, muito por causa dos setores econômicos que mais contratam esses trabalhadores. A lista continua com paraguaios, argentinos, cubanos, bolivianos e peruanos.
Numa leitura desse relatório feita pelas lideranças da Fecomércio, conclui-se que o fato de dois terços (60%) dessa mão de obra ser preenchida por pessoas de países em crise, Venezuela e Haiti, mostra como o Brasil pode elaborar políticas públicas voltadas para a absorção delas. Conta muito, por exemplo, a boa escolaridade desses migrantes, além do fato de serem jovens e de virem ao nosso País em busca de melhores condições de vida.
Não só isso, mas empregá-las também gera um efeito social relevante, porque proporciona renda, acesso ao sistema de crédito e proteção institucional, já que o regime celetista garante uma série de benefícios ao trabalhador. Se a tendência é que esse fenômeno continue crescendo, por fatores que vão da política internacional ao desempenho econômica brasileiro, ele pode ser utilizado para melhorar a produção do Brasil e expandir os setores que mais demandam por mão de obra.
Com base no Novo Caged 2024, a FecomércioSP conclui que os dois setores mais procurados pelos imigrantes são a indústroa, que já registra 92,8 mil trabalhadores de outras nacionalidades com carteira assinada (representando um terço de todos os vínculos que eles têm no país), seguido por setores do comércio, com ênfase para reparação automotiva, que já ostenta 65,7 mil postos de trabalho.
Por José Osmando