O agravamento das questões climáticas, com desmatamentos e queimadas aumentando de modo acentuado a emissão de gás carbônico, o CO2, na atmosfera, com enorme pressão sobre o aquecimento global, parece, finalmente, estar despertando interesse e responsabilidade de governantes e empresários de grandes nações, sobretudo em relação ao Brasil.
Esta semana, em Nova York, onde se desenrola a 79ª Assembleia-Geral da ONU, oportunidade para que ocorram, além dos discursos de plenário, conversas bilaterais entre países visando cooperação em vários campos, alguns passos importantes relativos às questões ambientais estão sendo dados.
Um desses avanços consiste no acordo celebrado pelo Estado do Pará com governos e empresas estrangeiras, resultando na compra de R$ 1 bilhão em créditos de carbono na Amazônia brasileira. Nesse entendimento, além do Estado brasileiro, estão envolvidos os governos dos Estados Unidos, Noruega e Reino Unido, e também de empresas de peso na economia mundial, como Amazon, Bayer e a Fundação Walmart, como compradores. O anúncio dessa importante cooperação foi feito em Nova York, nesta que é a Semana do Clima.
Essa modalidade de compra de crédito de carbono é importante para manter florestas de pé, evitando, por consequência a queima de CO2. Como as árvores absorvem o CO2, numa avaliação hipotética, se um conjunto de cinco árvores for preservado, haverá um ganho estatístico importante, com uma tonelada de CO2 deixando de ir para a atmosfera. Esta quantidade passa a ser certificada a partir de uma metodologia internacional e é considerada um crédito de carbono.
Com esse contrato de R$ 1 bilhão fechado pelo Estado do Pará, fica estabelecida a venda de 12 milhões de toneladas de crédito de carbono, cada uma vendida a US$ 15, que é mais do que duas vezes o valor de mercado. O Pará já vinha atuando nessa estratégia de venda de crédito de carbono, com resultados significativos. Em um ano já apresenta uma redução de 42%nos alertas de desmatamento, conforme atesta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -INPE.
Ao anunciar a celebração desse contrato, o governador do Estado do Pará, Jader Barbalho, informou que parte da arrecadação obtida com a venda de créditos de carbono será destinada a povos indígenas, quilombolas, extrativistas e em investimentos da agricultura familiar, em consideração ao fato de que essas populações têm, além do interesse na preservação ambiental, uma experiência, uma cultura, notáveis, no trato com a natureza.
Em preparação para sediar a conferência climática, a COP30(Conferência da ONU para Mudanças Climáticas) que ocorrerá em Belém do Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025, o Brasil está mais próximo de implantar um dos mais efetivos sistemas de comércio de emissões de carbono, uma nova linguagem que hoje começa a dominar o mundo desenvolvido, como ferramenta de investimentos na preservação ambiental.
Detendo a maior área de florestas tropicais do mundo, o Brasil exerce um papel fundamental no fornecimento de proteção natural contra o aumento das temperaturas, podendo, nesse aspecto, ser um atrativo especial para a injeção de recursos externos, vindos notadamente de grandes países europeus, dos Estados Unidos, Canadá e China. Esses países começam a acordar de um sono profundo que fechou os olhos para as tragédias ambientais que se desencadearam mundo afora, daí começarem a criar mecanismos de precificação de carbono, incentivando indústrias pesadas a buscarem alternativas verdes, e ao mesmo tempo levando seus bilhões de dólares para projetos de preservação em várias partes do planeta.
O Brasil, nesse contexto, detendo uma área territorial gigantesca dentro da Amazônia e ostentando importantes biomas naturais, como o Pantanal, leva uma vantagem enorme para a captação de recursos externos, algo que, ao que está parecendo, começa a dar os primeiros frutos.
Por José Osmando