A celebração do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, embora ainda dependa de ratificação por parte do Parlamento Europeu, é uma conquista significativa para os dois blocos de países, que poderão se beneficiar de relações comerciais e diplomáticas bem mais favoráveis, afastando entraves mantidos por um protecionismo descabido nesse mundo globalizado. Os dois blocos chegaram a um consenso que vinha sendo tentado há quase quatro décadas.
É notório que esse grande passo abrirá portas, após a ratificação e assinatura final, para novas oportunidades continentais de crescimento sustentável, para a conquista de inovação tecnológica, troca de experiências comerciais e científicas e reforço de uma amizade secular que une países europeus às nações latino-americanas, revigorando laços que vêm desde os tempos da colonização exercida com bastante visibilidade pelos europeus em terras da América do Sul e do Caribe.
Os termos do acordo foram arduamente trabalhados, vislumbrados em cada detalhe, afastando-se qualquer possibilidade de prejuízos unilaterais, pensando-se no conjunto dos interesses, de modo que resultou num documento “moderno e equilibrado”, conforme expressou o Presidente brasileiro Lula, um dos maiores entusiastas desse entendimento. O texto final trata não apenas de boas e prósperas relações comerciais e de trocas entre os dois blocos, mas é bastante orientado por valores.
Um dos pontos importantes, além dos negócios que passarão a ser desenvolvidos de forma mais ampla e desembaraçada, o acordo entre Mercosul e União Europeia estabelece um reforço necessário ao Acordo de Paris, colocando as mudanças climáticas no centro das atenções dos dois blocos, destravando uma inércia descabida em que esse importante documento, firmado ainda no ano de 2015, foi colocado a partir daí, nunca resultando nos efeitos que se desejava, pela falta de cumprimento, pelos europeus, no repasse de recursos financeiros para atender à recuperação ambiental nos países latinos.
O acordo Mercosul e União Europeia tem uma significação extraordinária, pois oferece aos países latinos o ingresso, sem barreiras, a um mercado expressivo do mundo, representando por cerca de 450 milhões de consumidores. Para o Brasil, especialmente, o acordo é profundamente importante, considerando, de partida, que a União Europeia já se apresenta como o segundo maior parceiro comercial de nosso país, com um fluxo de 87,5 bilhões de euros, um volume que certamene aumentará bastante diante dessa nova realidade.
E além do volume de recursos já envolvidos até agora, as relações comerciais com a União Europeia ganham significado diferente, em decorrência do tipo de produtos que o Brasil exporta para lá. O maior volume de nossas exportações provém de bens industriais, como aeronaves, muito mais do que commodities e matérias-primas enviadas para outros países de continentes diferentes.
É inegável que o Brasil será um dos mais beneficiados com esse acordo, mas certamente toda a América Latina ganhará com isso, melhorando a competividade, tendo ao seu alcance novos ambientes de negócios, agora mais desembaraçados, sem as barreiras que antes travavam os entendimentos.
Junto a isso, muito se lucrará na troca de experiências, de conhecimento científico e tecnológico. E os europeus, do mesmo modo, serão favorecidos com experiênias exitosas desenvolvidas por países da América, muito especialmente no campo da agropecuária, onde países como Brasil demonstram uma gigantesca capacidade, graças à criação e aplicação de pesquisas avançadas postas em prática pela EMBRAPA e outros órgãos, que colocam nosso país como um líder mundial na produção de grãos e numa magnitude formidável no terreno da pecuária.
Um dos aspectos importantes para o Brasil, com o acordo, é a real possibilidade de atrair tecnologia e boas práticas para o urgente processo de reindustrializaçao do país, uma iniciativa que vem sendo tocada pelo Governo Lula desde janeiro de 2023, mas que precisa ganhar velocidade diante do estrago, da estagnação, do desmonte que esse setor fundamental da nossa economia sofreu em passado recente, sobretudo nos últimos 6 anos anteriores ao atual governo.
Por José Osmando