O ano de 2024 será sempre lembrado pelos habitantes do Rio Grande do Sul devido às devastadoras enchentes ocorridas entre abril e maio. A tragédia natural resultou em centenas de mortes e a perda de muitos lares, despertando, no entanto, uma onda de solidariedade que se espalhou por todo o país. Essa mobilização foi sentida, sobretudo, no mundo do esporte, onde muitos atletas adiaram suas rotinas de treinamento para se dedicarem ao auxílio das vítimas. Entre eles estão os remadores gaúchos Evelen Cardoso e Piedro Xavier, que deixaram de lado suas agendas desportivas para se engajarem nessa causa humanitária. Representando o Grêmio Náutico União, o casal atualmente compete no Campeonato Brasileiro de Remo Costal em Florianópolis, mas o último ano foi marcado por uma série de desafios pessoais e coletivos que transcenderam o esporte.
Piedro explicou a decisão de abrir mão de seus objetivos esportivos: “A vida é uma só, precisamos nos reconstruir diariamente. O Evaldo, nosso colega, precisou se retirar com sua família pequena e buscar segurança no abrigo de nosso clube. Sentimos a dor de muitos amigos e tivemos que agir.” A atitude do casal reflete a tradição de união do povo gaúcho frente às adversidades. Para eles, o esporte é uma força de transformação que pode ir além das competições, servindo como uma plataforma de solidariedade e mudança social.
Mesmo após as águas cederem, o destino trouxe mais dor. Ao retornarem ao remo competitivo no Brasileiro Absoluto em São Paulo, uma tragédia se abateu com um acidente de carro que tirou a vida de sete atletas e do treinador do projeto social Remar para o Futuro, que tinha um significado especial para Evelen e Piedro. “É difícil estar aqui sem elas. Era uma espécie de família para nós”, confessou Evelen, recordando emocionada das companheiras que partiram. O casal, estreitamente ligado ao projeto, viu-se motivado a continuar o legado do treinador Oguener Tissot, também vítima do acidente. O choque reforçou em Evelen e Piedro o propósito de fomentar a esperança e potencial nos jovens de Pelotas através do remo, perpetuando os ensinamentos do treinador que os inspirou.
Atualmente, enquanto competem em Florianópolis, ambos buscam reerguer-se pessoal e coletivamente. Junto dos outros atletas gaúchos, que compartilham desses traumas recentes, há uma procura por renovação e resiliência, impulsionada pela vontade de homenagear aqueles que se foram, mas que permanecem vivos nas lembranças de cada dia.
A comunidade de remo do Rio Grande do Sul também se uniu em resposta aos desastres, mostrando a força do trabalho em grupo para superar as tragédias. Atletas, treinadores e o próprio presidente da Federação de Remo do estado, Werner Hoher, envolveram-se diretamente no resgate das vítimas e na luta para reparar os extensos prejuízos financeiros e materiais causados pelas enchentes. Avaliado em cerca de R$ 10 milhões, o impacto foi significativo, mas, como reiterou Hoher, o cenário atual revela a capacidade de transformação e resiliência frente à adversidade. O campeonato que agora participam simboliza um novo começo, e a crença de que, de uma forma solidária e coletiva, se pode construir um futuro melhor no esporte e na sociedade.
Com informações do Comitê Olimpico do Brasil
Legenda Foto: Casal de remadores gaúchos, Evelen Cardoso e Piedro Xavier, busca reconstrução através do esporte após enfrentar enchentes devastadoras e a perda trágica de amigos. Em 2024, mesmo abalados, eles competem no Campeonato Brasileiro de Remo Costal em Florianópolis, representando o legado de solidariedade e resiliência que marcaram sua trajetória. Foto: Daniel Varsano/COB.