O medalhista olímpico Edival Pontes, popularmente conhecido como Netinho, viveu um momento de consagração nos Jogos Olímpicos Paris 2024 ao conquistar a medalha de bronze no taekwondo. Contudo, o caminho até esse êxito foi repleto de desafios emocionais e psicológicos. Diante de mudanças significativas em sua vida, como a perda de seu pai e uma suspensão preventiva por um resultado adverso em um exame antidoping nos Jogos Pan-americanos Santiago 2023, Netinho enfrentou uma batalha interna que quase abalou sua carreira.
Após a derrota na estreia, Netinho teve que esperar exaustivas oito horas até sua próxima luta, um período em que o desenvolvendo mental foi crucial. O suporte emocional e psicológico veio na forma de um coach esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Kleber Maffei, com quem começou a trabalhar remotamente em janeiro deste ano. Esse trabalho mostrou-se um divisor de águas para o atleta, que encontrou em Kleber não só um treinador, mas alguém capaz de ressignificar sua própria história.
Netinho compartilhou a profundidade de sua dor pela perda do pai, a quem considerava seu pilar inabalável. Sem a presença paterna, ele sentiu que sua confiança havia se esvaído. “Depois que meu pai faleceu, eu não tinha mais confiança em ninguém”, revelou o atleta, que inicialmente tentou sessões de psicoterapia, mas não obteve os resultados desejados. As dúvidas se acumularam a ponto de ele acreditar que o esporte talvez não fosse sua verdadeira vocação. Tudo mudou quando começou a trabalhar com Kleber Maffei, uma parceria que trouxe de volta a determinação necessária para alcançar seus objetivos no tatame.
Kleber entendeu que o trabalho com Netinho deveria ir além da técnica esportiva, focando na reconstrução da autoestima e do sentimento de merecimento. “Netinho sempre foi muito querido e uma inspiração para muitos”, afirmou o coach. O episódio da suspensão trouxe à tona questões mais profundas relacionadas a perdas anteriores que jamais haviam sido processadas adequadamente. A missão do coach foi reestabelecer a confiança do atleta em suas capacidades e em seu direito de continuar a buscar e alcançar novas conquistas.
A abordagem sensível e compreensiva de Kleber, alinhada com suas experiências como ex-atleta, resultou em uma conexão importante. Segundo ele, o fundamental foi se conectar emocionalmente com Netinho, criando um vínculo de confiança que pavimentou o caminho para o sucesso. “Não me atrevo a dar diagnósticos ou tratar traumas. Meu papel foi entender profundamente sua história e trazer à tona significados que poderiam favorecer sua reinvenção”, explicou Maffei.
Após garantir o bronze, Netinho não poupou gestos de reconhecimento e gratidão a outras figuras importantes em sua trajetória, como Henrique Precioso, Chefe de Equipe do Taekwondo em Paris, e Natalia Falavigna, a primeira medalhista olímpica do taekwondo brasileiro. Esses companheiros, que estiveram ao seu lado tanto em momentos de glória quanto nas dificuldades, como o episódio do doping, foram especialmente mencionados por Netinho em um emocionado abraço após a conquista. “Desde os meus 16 anos, o pessoal da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) nunca desistiu de mim. Henrique é um irmão para mim, e isso é muito importante”, destacou.
Essa trajetória de superação e resiliência reforça a importância do cuidado com a saúde mental, especialmente no esporte de alto rendimento, onde a pressão por resultados pode ser esmagadora. A história de Netinho é uma prova viva de que, com o suporte adequado, é possível transformar momentos de crise em oportunidades para novas conquistas.
Com informações do Comitê Olimpico do Brasil
Legenda Foto: Time BrasilNetinho celebra mudança de mentalidade após trabalho com coach do COBMedalhista olímpico do taekwondo sofreu com a perda do pai e suspensão e se rendeu à importância do trabalho de saúde mentalNetinho, medalhista olímpico, celebra mudança de mentalidade após trabalho com coach do COB. Foto: Divulgação/COBTagsJogos Olímpicos Paris 2024Navegue por tópicosApós a derrota na estreia foram oito horas de espera até voltar a lutar em busca do bronze. Para não perder a esperança e, principalmente, o foco, Edival Pontes, o Netinho, contou com a força mental trabalhada nos últimos meses junto a um coach esportivo do Comitê Olímpico do Brasil. Parceria que foi exaltada pelo taekwondista logo após o pódio nos Jogos Olímpicos Paris 2024.“Meu pai era meu pilar. Depois que ele faleceu, eu não tinha mais confiança em ninguém. Tentei com psicólogo e não tinha gostado, isso sempre martelava na minha cabeça, que não dava certo. (…) Ia para o treino e tomava um chute que nunca tomei na vida. Achava que não era para mim. Graças a Deus consegui trabalhar com o coach que o Comitê Olímpico do Brasil conseguiu para mim, que veio me ajudando bastante”.O coach em questão é Kleber Maffei. O trabalho começou em janeiro deste ano de forma remota. Netinho enfrentava uma situação dificílima, cumprindo suspensão preventiva após um resultado analítico adverso realizado nos Jogos Pan-americanos Santiago 2023. A defesa do lutador conseguiu reduzir a pena por não haver relação com ganho de desempenho esportivo, mas o tempo afastado do esporte mexeu com o psicológico dele.Netinho, medalhista olímpico, celebra mudança de mentalidade após trabalho com coach do COB. Foto: Divulgação/COB“Netinho sempre foi um atleta muito querido e sabia que era inspiração para muitos, inclusive as crianças. Esse episódio o levou a pensar que não era merecedor de novas conquistas e oportunidades, e isso também trouxe à tona o peso de algumas perdas que tivera e que na época não conseguiu por pra fora e trabalhar. Então, entendi que precisava ajudá-lo a resgatar esse sentimento de merecimento por meio de atitudes, sempre respeitando seu estilo”, explicou Kleber.Netinho já tinha experimentado terapia e não havia se adaptado. A descrença na importância do cuidado com a saúde mental se desfez com a abordagem do coach esportivo do COB.“Meu objetivo inicial foi simplesmente me conectar com ele, ser empático com o momento e com os sentimentos que o envolvia naquela época, para que pudesse confiar em mim e assim criarmos uma conexão que seria fundamental para o sucesso do trabalho. Como não sou psicólogo, não me atrevo a dar diagnósticos e muito menos querer tratar traumas. Como ex-atleta e um coach que tem como essência a educação, o que fiz foi me interessar profundamente sobre sua história e identificar os pontos que para ele são importantes e que poderia trazer à tona como um importante significado para sua reinvenção”, complementou Kleber.Após a luta que definiu a conquista do bronze, Netinho externou sua gratidão também por outros dois importantes nomes do taekwondo brasileiro. Henrique Precioso, Chefe de Equipe do Taekwondo em Paris, e Natalia Falavigna, primeira medalhista olímpica da história do esporte com o bronze em Pequim 2008, receberam abraços emocionados no Grand Palais.Netinho e a emoção com o bronze olímpico nos Jogos Paris 2024. Foto: Divulgação/COB“São pessoas que eu vi que estavam comigo não só na glória, quando eu estava medalhando em Grand Prix, mas também quando eu caí na situação do doping. Estavam todos ali comigo, nunca desistiram de mim. “É o Netinho, livra ele, prova que ele é inocente porque a gente precisa dele e confia no menino”. É muito emocionante, e sou muito grato à CBTKD e ao pessoal que acreditou em mim desde pequenininho. Desde os meus 16 anos, estou com esse pessoal. Henrique é um irmão pra mim, e isso é muito importante”.TagsJogos Olímpicos Paris 2024