O renomado professor e pesquisador da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luiz Eduardo Andrade, lança nesta quinta-feira (20) em Maceió, o livro intitulado “Vidas Matáveis em Cornélio Penna”, pela Cepe Editora. A obra representa o resultado de uma extensa pesquisa que traz uma nova perspectiva sobre a obra de um dos mais importantes romancistas do modernismo brasileiro. Andrade argumenta que Cornélio (1896-1958) vai além da imagem comum de escritor sombrio e gótico, sendo um intérprete crítico da realidade brasileira, a exemplo de figuras como Graciliano Ramos, Machado de Assis e Euclides da Cunha.
O livro, composto por 344 páginas, apresenta uma análise inovadora que se fundamenta nos conceitos de biopolítica, homo sacer (homem sacro; ser matável) e estado de exceção para oferecer uma compreensão mais profunda dos quatro romances publicados por Cornélio Penna, a saber: “Fronteira” (1935), “Dois romances de Nico Horta” (1939), “Repouso” (1948) e “A menina morta” (1954). Nestas obras, o professor da Ufal identifica denúncias contundentes que evidenciam a exploração dos corpos de mulheres e escravizados para a manutenção dos poderes ideológico, político e econômico, através de instituições como casamento, família e trabalho.
Cornélio Penna interpreta o Brasil sob uma ótica crítica da vida privada, destacando a gestão da intimidade e os processos de sujeição que relegam figuras como a mulher e o negro ao abandono social. A autenticidade da literatura de Penna reside na exposição da vida das personagens à comunidade, refletindo sobre a perpetuação de uma sociedade envolta em conveniências econômicas e políticas decorrentes da exploração dos mais vulneráveis.
A escrita de Cornélio Penna se destaca por oferecer uma visão penetrante sobre a estrutura de poder, evidenciando o papel do trabalho e do casamento como dispositivos de submissão e exploração. Os romances, ambientados entre os séculos XIX e XX em uma pequena cidade mineira, abordam a ruína moral e econômica dos núcleos familiares patriarcais e a herança da escravidão, elementos entrelaçados com as memórias do autor em Itabira, cidade que também foi lar do renomado poeta Carlos Drummond de Andrade.
A morte, recorrente nas obras de Cornélio Penna, não apenas simboliza o fim da vida física, mas também representa a transformação irreversível dos afetos e da psique. Através da morte, o romancista expõe a fragilidade e o vazio que permeiam o núcleo de poder, revelando as tensões e contradições presentes na sociedade brasileira.
No entanto, apesar de sua profunda análise e contribuição crítica, Cornélio Penna não obteve o reconhecimento e a projeção de outros modernistas brasileiros. Mesmo assim, seu legado literário é valorizado por Luiz Eduardo Andrade como uma importante peça na construção de narrativas que buscam compreender e denunciar os problemas sociais e culturais do país. O lançamento do livro promete enriquecer o debate acadêmico e literário, contribuindo para uma reflexão mais ampla sobre a vida e a obra desse notável escritor.
Com informações e fotos da UFAL