A Coleção Perseverança é um importante testemunho da memória e tradição afro-religiosa de Alagoas, composta por 211 peças sagradas saqueadas por militares durante a invasão de terreiros no estado, no episódio conhecido como Quebra de Xangô. Esse evento ocorreu no início do século passado e foi resultado de uma disputa entre políticos da época.
Recentemente, em julho deste ano, a coleção foi tombada provisoriamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esse processo de tombamento provisório é uma etapa necessária antes do tombamento definitivo, que garante a proteção legal dos bens culturais. O Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) foi notificado, pois abrigou os objetos saqueados desde 1950, após o fechamento do Museu da Sociedade Perseverança – entidade que deu origem à coleção.
Finalmente, em 12 de novembro, o tombamento definitivo da Coleção Perseverança foi apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Esse resultado foi fruto dos esforços de um grupo de trabalho formado por representantes de casas afro-religiosas, o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o Instituto do Negro de Alagoas (Ineg) e outros órgãos estatais.
Danilo Marques, coordenador do Neabi, menciona a importância da participação da Ufal nesse processo, não apenas como suporte técnico para o tombamento, mas também como facilitador para que a comunidade afro-religiosa de Alagoas possa reaver suas peças sagradas, transformando assim um símbolo de violência e racismo em um legado de resistência.
A Quebra de Xangô, que motivou o saque das peças da coleção, ocorreu em 2 de fevereiro de 1912 durante as festividades de Oxum. Esse evento violento resultou na destruição de vários terreiros e no roubo dos objetos ritualísticos, desencadeando a morte de importantes figuras religiosas, como Tia Marcelina, uma figura icônica na luta negra alagoana.
Com informações e fotos da UFAL