A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) manifestou, recentemente, sua apreensão diante da substituição do delegado responsável pela Superintendência da Polícia Federal (PF) no Amazonas. A entidade levanta a preocupação de que essa mudança no comando regional possa impactar negativamente investigações em curso, tal como a relacionada ao assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, que ocorreu no ano de 2022.
Até março de 2023, a superintendência estava sob a chefia do delegado Umberto Ramos Rodrigues, que agora foi substituído pelo delegado João Paulo Garrido Pimentel. A Univaja se pronunciou declarando que a redistribuição dos inquéritos anteriormente conduzidos pelo delegado encarregado de investigar o massacre no Rio Abacaxis desperta grande apreensão, especialmente devido ao envolvimento de autoridades de alto escalão do Amazonas nessa investigação.
A entidade ressalta que a transferência da presidência do inquérito dos assassinatos de Dom, Bruno e Maxciel para outro delegado pode comprometer os avanços das investigações em direção à elucidação dos crimes, especialmente se autoridades locais envolvidas em práticas criminosas no estado, que figura em terceiro lugar em índices de criminalidade no país, forem alvo.
O Massacre do Rio Abacaxis, que resultou na execução de seis pessoas e no desaparecimento de outras duas de comunidades nos municípios de Nova Olinda do Norte e Borba em agosto de 2020, envolveu a investigação de cerca de 130 policiais civis e militares suspeitos de participação nos crimes.
No que diz respeito ao caso de Dom e Bruno, ainda não foi definida a data para o júri popular dos três réus: Amarildo da Costa de Oliveira (Pelado), seu irmão Oseney da Costa de Oliveira (Dos Santos) e Jefferson da Silva Lima (Pelado da Dinha). Todos permaneceram em silêncio durante a audiência de instrução realizada em julho de 2023.
Eliésio Marubo, líder indígena, enfatizou a importância de transparência em relação aos motivos da substituição do delegado da PF no estado. Ele elogiou o trabalho realizado por Ramos Rodrigues e alertou para possíveis alianças políticas e figuras relacionadas aos casos em busca de foro privilegiado para evitar a responsabilização penal.
Em agosto do ano passado, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos anunciou a formação de uma mesa de trabalho conjunta para garantir a segurança de 11 membros da Univaja. Contudo, mesmo com um prazo estabelecido para a preparação de um plano de ação, nada foi concretizado até o momento, o que levou a entidade a considerar levar o caso para instâncias internacionais.
A Agência Brasil entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o escritório da PF no Amazonas em busca de mais informações. A situação permanece em desenvolvimento, e o desfecho dessa troca de delegados e seus possíveis impactos nas investigações ainda está por ser acompanhado de perto.
Com informações da EBC
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