Recentemente, o Brasil comemorou um avanço significativo na pecuária ao registrar o nascimento dos primeiros bezerros geneticamente editados através de embriões fecundados in vitro. Essa conquista, fruto de uma parceria entre a Embrapa e a Associação Brasileira de Angus, marca um importante passo para o desenvolvimento de raças bovinas mais adaptáveis às altas temperaturas e às mudanças climáticas, recorrentes no Brasil.
Utilizando a inovadora técnica de edição genética chamada CRISPR/Cas9, o projeto teve como objetivo criar animais com pelos mais curtos e lisos, características que favorecem a resiliência ao calor. Até o momento, cinco bezerros da raça Angus já nasceram, e os primeiros testes indicam que em pelo menos dois deles a edição genética foi bem-sucedida. O sequenciamento genético realizado pela Embrapa Gado de Leite, em Minas Gerais, confirmou que esses animais possuem as características desejadas.
O CRISPR/Cas9 é frequentemente descrito como uma “tesoura genética”, permitindo uma edição precisa das sequências de DNA, o que torna possível que mutações benéficas sejam inseridas diretamente nos embriões. Essa abordagem é particularmente inovadora, pois possibilita o desenvolvimento de características desejadas sem a necessidade de longos processos de cruzamento que podem levar várias gerações para apresentar resultados. A pesquisa se concentrou na edição de um gene relacionado ao receptor da prolactina, que regula a temperatura corporal nos bovinos.
Além disso, um método conhecido como eletroporação de zigotos foi utilizado para introduzir as edições necessárias nas células. Esse método é menos invasivo e mais eficiente do que técnicas tradicionais, consolidando-se como uma alternativa viável para a edição genética em bovinos.
As expectativas para esses novos bezerros são altas, especialmente em relação ao seu desempenho produtivo em ambientes quentes e úmidos. A ideia é que esses animais sejam menos propensos ao estresse térmico, melhorando seu bem-estar e, consequentemente, aumentando a produtividade. Essa adaptação é cada vez mais necessária com os desafios que o aquecimento global impõe à pecuária.
As pesquisas não param por aqui; a continuidade dos estudos visa garantir que as características benéficas se transmitam para futuras gerações, formando uma base sólida para a adaptação de rebanhos inteiros ao clima tropical brasileiro. O diretor-executivo da Associação Brasileira de Angus e Ultrablack, Mateus Pivato, experimenta otimismo sobre o futuro da pecuária brasileira, destacando a importância desse avanço tecnológico para criar um Angus mais adaptável e, portanto, mais competitivo no mercado.
Por fim, ao observar a evolução dessa iniciativa, percebe-se não apenas um avanço no manejo animal, mas também um compromisso com práticas que respeitam o bem-estar dos animais e atendem a um consumidor cada vez mais consciente sobre a origem e a qualidade dos produtos que consome.
Com informações da Embrapa
Fotos: Foto: Rubens Neiva / Embrapa