Um levantamento realizado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalizamos da Universidade Federal Fluminense conclui que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro somou 707 chacinas desde o ano de 2007 ( em 18 anos, portanto), contabilizando 2.865 civis mortos nas ações policiais. Chamam bastante atenção os detalhes trazidos pela premiada jornalista Dorrit Harazim, em artigo publicado hoje, com os quais trabalho nesta análise.
Nessa mais recente chacina, que o governador Cláudio Castro comandou na terça-feira, 28 de outubro, a demonstração dos números é assustadora:
-121 mortos(conforme os dados oficiais);
-117 de “suspeitos” ou “bandidos”, de acordo com a catalogação oficial – e quatro policiais militares e civis;
-113 pessoas presas, oito abaixo do número de mortos;
-bem mais mortos do que o número de feridos (15 policiais e quatro moradores)
-E vejam bem:
mais mortos dos que os 104 palestinos eliminados em Gaza pelas forças de Israel naquele mesmo dia.
Tudo isso ocorreu sob o discurso oficial do governador Cláudio Castro de que as ações tiveram a finalidade de combater os “narcoterroristas”-uma denominação que a extrema direita mundial incorpora ao seu dicionário político-, do Comando Vermelho, daí justificando-se a “justiça sem julgamento” aplicada de modo voraz na operação.
Pela movimentação dos governadores de direita e extrema direita em solidariedade ao governador do Rio, e pela divulgação de “pesquisas” logo após as ocorrências, todas no caminho de aplaudir a tragédia como coisa legítima, fica de tudo uma certeza:
Os palanques de 2026 terão no recurso à violência como instrumento de segurança pública, um peso extraordinário na eleição.
Parece que as argumentações que estavam faltando para unir esses grupos chegaram mais cedo do que se imaginava, e vêm banhadas de sangue e medo, numa lógica absurda de que isso pode significar algum sinal de esperança para comunidades inteiras sufocadas há décadas pelo terror e pela opressão.
Comunidades que, hoje, vítimas permanentes de organizações como o Comando Vermelho, estão há décadas sendo atingidas por polícias violentas e profundamente corruptas, que derivaram para a rota das milícias assassinas e dominadoras, assumindo o comando de territórios e impondo medo, numa escalada de visível e assustadora associação com os outros tipos de facções criminosas que agora o governo carioca diz combater.
Vale a advertência- de que temos, todos, de estar cientes-, de que a proliferação do medo entre os brasileiros, especialmente entre aqueles que vivem submetidos a ambientes cruéis de vulnerabilidade, reforçada por discursos inflamados de que só a morte será capaz de dar fim à criminalidade, farão parte de uma pregação vigorosa dos candidatos e apoiadores da direita, durante esse pleito de 2026.
E observe-se que se trata de um momento crucial para a Democracia, em que, além de governadores, os eleitores, num esforço e num sonho de ter algo melhor do que temos hoje na Câmara e no Senado, escolherão seus representantes no Legislativo.
Concordo com a especialista em segurança pública, professora da UFF, Jaqueline Muniz, quando afirma que a matança tem elevada rentabilidade eleitoral. Por que aqueles expostos à morte votam no matador? Quanto maior o medo, maior o desejo por uma solução imediata.
Por José Osmando


								










