Apesar de ter registrado a criação de 147 mil novos postos de trabalho com carteira assinada no mês de agosto, os dados monitorados pela CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) indicam que a concretização dos empregos no Brasil ficou abaixo das estimativas, retratando uma desaceleração no crescimento econômico, algo que o mercado, de olho na inflação, até mesmo desejava.
O resultado ficou abaixo da estimativa mediana de instituições financeiras e consultorias a serviço da Faria Lima, que sugeriam uma abertura líquida de 184 mil novas vagas. Na comparação com o mês de agosto de 2024, o resultado ficou bem pior, pois nesse período foram registrados 239 mil empregos com carteira assinada.
É nessa política de desaquecimento econômico que o Banco Central, influenciado fortemente pelo capital especulativo, vem apostando.
Sob o olhar do Copom, vê-se sempre que é preciso ficar atento a um avanço muito acentuado dos diversos setores econômicos, com crescimento constante do emprego e da renda e uma atividade muito forte das famílias na elevação do consumo, porque isso leva à inflação.
As razões encontradas para uma empregabilidade menor do que se esperava estão claramente detectadas em duas ocorrências, portanto. Primeiramente, pela incidência persistente de juros Selic absurdamente elevados e pela vigência do tarifaço aplicado a produtos brasileiros de exportação para os Estados Unidos, medida adotada ainda em julho passado pelo presidente Donald Trump.
A lamentável constatação, entretanto, é de que essa desaceleração econômica, com redução nos empregos e sensível diminuição no consumo, não afeta em nada a visão do Banco Central que seja capaz de iniciar uma jornada de redução dos juros. O Copom mantém no seu radar o risco de inflação e leva em rigorosa observação que o saldo de empregos sob o Governo Lula ainda é bastante positivo, “bem expressivo”, como justifica um analista do BC acostumado a presenciar a obsessão que eles dedicam à política fiscal, que para eles corre risco em 2026.
Na contramão dos sentimentos da população, que enxerga atividade econômica em crescimento, emprego e renda como associados do seu bem-estar e do seu emponderamento para o consumo, o mercado está festejando essa desaceleração, entendo que ela é boa e necessária, indicando que o ajuste do mercado de trabalho já começou.
A desaceleração, conforme acreditam os analistas, é uma realidade e vai continuar se acentuando.
Os juros altos praticados pelo Copom, que fazem do Brasil o vice-campeão mundial nesse campo, trazem como consequência uma redução acentuada no crédito, sobretudo por parte das empresas. Os setores produtivos são os mais afetados e, nesse terreno, quem mais está sofrendo é o mercado da construção civil. Mesmo ainda mantendo um crescimento próximo a 2%, em razão sobretudo de programas governamentais como o Minha Casa, Minha Vida, o setor está se ressentindo fortemente diante da escassez de crédito, cujo maior empecilho tem sido as taxas muito altas praticadas pelos bancos, tudo seguindo a cartilha do Banco Central.
Com as taxas de juros nos patamares em que estão hoje, de 15% ao ano, sem perspectivas de redução, os dirigentes das empresas de construção civil param de construir e são forçosamente direcionados às aplicações no mercado financeiro, pois nesse setor conseguem ter ganhos elevados e salvar temporariamente os seus negócios.
Com os juros nos níveis de hoje, com consequente redução nas ofertas de financiamento, a classe média brasileira, que depende do FGTS e da poupança, sofre impacto severo, e mesmo com a existência de programas como o Minha Casa Minha Vida, não é possível ao mercado da construção civil manter os padrões de crescimento que vinham se registrando entre 2023 e 2024.
Estamos diante de uma triste realidade no Brasil. Enquanto a população de modo geral sofre com a falta de crescimento econômico, tendo emprego, renda e consumo afetados diretamente, o mercado especulativo, que ganha montanhas de dinheiro graças a juros sempre mais altos, bate palmas para o Copom.
Por José Osmando