No calendário das estações do ano, a Primavera se instala neste 22 de setembro, simbolizando renascimento, novos começos, esperança e vitalidade, sendo uma estação associada à prosperidade e à renovação de ciclos. É a estação da virada, da troca do obscurantismo pela luz, com todos os significados que isso carrega.
Mas, para os brasileiros, as necessidades de revitalizar a vida e as esperanças, de ver surgirem novos rumos nas relações humanas, sociais e políticas, são de tal modo tão elevadas e urgentes, que a Primavera resolveu se antecipar.
Ontem, 21/09, chegou ao Brasil na forma de movimentação humana coletiva espetacular, tomando as ruas de todas as capitais brasileiras e de muitas grandes e pequenas cidades desse nosso mundão, para expressar com força e clareza que é preciso dar um basta no ambiente de desrespeito, de oportunismo barato e de desesperança que a má política implantou no país.
Como — na origem do seu significado (que vem do latim) —, a palavra Primavera significa o “primeiro verão”, ou seja, a marca de um despertar trazida pela luz, alegria e beleza, fechando um ciclo de recolhimento, de adormecimento, de escuridão, de ausência de ânimo, que a estação chuvosa anterior representa. Sua chegada agora, antecipada pela presença de massas humanas nas ruas, é uma metáfora esperançosa para este Brasil de tantas dificuldades, ao qual se tenta impor uma condição absurdamente aviltante, com a prevalência da impunidade para crimes contra o povo e a nação, para a normalização de desvios de dinheiro público através de emendas parlamentares e para a submissão do país aos impulsos autoritários de um governante de outro país sobre o nosso.
Todos temos presenciado a atuação deplorável do Congresso Nacional (com notável e peculiar protagonismo da Câmara dos Deputados) que, de costas para o povo, agredindo os cidadãos e cidadãs, e mandando às favas até mesmo quem elege cada um dos senadores e deputados federais, põe na gaveta do seu descompromisso inúmeros projetos de interesse coletivo, como, por exemplo, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, a PEC da Segurança Pública e a tributação das grandes fortunas.
Na outra ponta da atuação, o mais frequente e visível trabalho da Câmara (repito que muito mais do que o Senado), pela imensa maioria dos seus integrantes, tem sido levar adiante planos de interesse pessoal, como essa recente e escandalosa PEC da Blindagem (que o senso comum muito adequadamente apelidou de PEC da Bandidagem) e o projeto de lei de anistia aos condenados de 8 de janeiro, cujo caráter real é estabelecer a impunidade para todos os que atentaram contra a democracia brasileira e trabalharam para a deflagração de um golpe de Estado que impedisse que o presidente da República recém-eleito pudesse governar.
A presença altiva e ampla de milhares de pessoas, em todos os cantos do nosso território, ocupando as ruas de maneira pacífica, restabelecendo às mãos dos brasileiros decentes os seus símbolos, como a Bandeira espalhada em todas as manifestações, é não apenas uma resposta às atitudes indignas e nefastas que deputados têm adotado contra o interesse público. Trata-se de um recado dado a esses maus parlamentares, que não honram o voto que receberam, de que a partir de agora tudo vai ser diferente.
Dificilmente as ruas deixarão de ser ocupadas por manifestantes de todas as classes sociais e faixas etárias, para dizer que estão de olho nas eleições de 2026.
Além da mensagem passada à Mesa da Câmara de que precisam parar com essas duas aberrações que eles estão aprovando, a PEC da Blindagem e a lei da Anistia, as ruas lotadas neste início de Primavera mandam dizer também que querem eleger, no próximo ano, um outro tipo de gente para tomar lugar na Câmara, no Senado, nas Assembleias Legislativas, e de que estão atentas, também, nas eleições para governos estaduais.
Esta primeira semana da Primavera, além desse olhar atento, vigilante, sobre as duas Casas do Congresso, também será marcada por outros eventos significativos, nos quais o Brasil certamente firmará seu papel de independência e soberania, a exemplo da Assembleia Geral da ONU, cabendo o primeiro pronunciamento ao presidente Lula, abrindo as sessões.
Ainda no campo internacional, outra importante notícia vem da adesão do Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal, somando-se ao Brasil no apoio à criação, finalmente, do Estado Palestino, um tema que será tratado em sessões paralelas à Conferência da ONU.
Agora já são mais de 140 países defendendo essa ideia, consequência lógica para acabar o massacre comandado por Israel, com apoio integral dos EUA, contra o povo palestino.
Vamos ficar aqui na torcida de que a Primavera, que começa bem para o Brasil, possa de fato iluminar nossos passos e nos fazer avançar em civilidade e felicidade.
Por José Osmando