A mídia tem registrado frequente interesse da China por novos negócios com o Brasil, às vésperas de prevalecer o decreto do presidente norte-americano Donald Trump, que impôs tarifas de 50% sobre diversos produtos que nosso país exporta aos EUA.
Um exemplo desse interesse está no anúncio deste final de semana de que a grande nação asiática habilitou 183 empresas brasileiras a exportar café. Foi um anúncio formal, feito pela Embaixada da China no Brasil.
O café, como se sabe, é um dos principais produtos brasileiros na lista de importação dos Estados Unidos. Somente em 2024, os norte-americanos levaram 23% do café brasileiro, especialmente da variedade arábica, um insumo necessário à indústria local de torrefação. Essa busca elevada pelo café produzido no Brasil vinha crescendo ainda mais neste ano de 2025. Nos cinco primeiros meses as exportações para os Estados Unidos totalizaram 3.316.287 sacas de 60 quilos.
Como o decreto de Trump, ao fazer a lista de exclusões do tarifaço, deixou de fora o café (assim também como as frutas, o mel e o pescado), abrir novos mercados com a China é bastante animador, pois embora os chineses, se comparados com os norte-americanos, tenham um perfil de consumo do café expressivamente menor, o gosto pela bebida tem aumentado, o que justifica novas iniciativas de importação. As vendas líquidas do café para os chineses cresceram mais de 13 mil toneladas entre 2020 e 2020 e vêm nesse ritmo de evolução em 2025.
E o potencial de crescimento é medido justamente pelo fato de que o consumo per capita saiu de praticamente zero para 16 xícaras/ano, atualmente, bem abaixo dos Estados Unidos, mas a bebida vem progressivamente conquistando espaços no dia a dia dos chineses.
A diferença do consumo entre China e EUA ainda é enorme e pode ser medida pelos negócios realizados no mês de junho deste ano, quando o Brasil exportou 440 mil sacas de café para os Estados Unidos, quase oito vezes mais do que as 56 mil sacas vendidas para os chineses.
O Brasil detém cerca de um terço do mercado de café dos EUA, uma atividade comercial avaliada em US$ 4,4 bilhões nos 12 meses de junho a junho na comparação 2024/2025.
Como a China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil e o aumento do consumo entre os chineses venha crescendo de maneira acentuada, há entre o governo e os empresários uma expectativa muito positiva de que esse novo caminho possa atenuar o impacto comercial que o tarifaço de Trump, anunciado para começar nesta quarta-feira, posso ser minimizado.
Embora a iniciativa da China seja encarada como um gesto positivo, governo e empresários sabem que a qualificação dessas 183 empresas brasileiras para exportarem não será suficiente para suprir por inteiro o rombo causado pelo tarifaço de 50%. Daí, todas as fichas continuarem sendo jogadas no poder das negociações que seguem em curso, de modo a convencer a Casa Branca a retirar o café, assim como outros produtos da lista de aplicação das exorbitantes tarifas.
Por José Osmando