Ninguém de bom senso contava com isso, mas era lógico que aconteceria. A escalada de juros elevadíssimos, até mesmo proibitivos que o Brasil ostenta, está levando pequenas e médias empresas nacionais a uma inadimplência recorde na história. Conforme dados do Banco Central, no mês de maio passado esses negócios chegaram à soma de R$ 1,179 bilhão em empréstimos, num crescimento de 11,6% em apenas um ano.
Os informes do BC dão conta não apenas de que as dificuldades de pagamento das contas estão em alta, mas que também aumentaram os números dos negócios em recuperação judicial, que representaram em abril cerca de 90% dos pedidos de proteção apresentados ao judiciário.
Pequenas e médias empresas terminam entrando num ciclo vicioso. Como reflexo das dificuldades, cresce a busca por financiamentos. E como os juros estão nas alturas, as vendas ficam comprometidas pelo aumento dos juros, fazendo as empresas terem embaraços severos no fechamento das contas, gerando um desaquecimento indesejável na economia. As empresas têm cada vez mais necessidade de capital de giro, e com esse dinheiro ficando mais caro no mercado, o empresariado fica num beco sem saída.
Mantendo as taxas Selic no maior patamar da história, o COPOM (Comitê de Política Monetária) do Banco Central contribui abertamente para esse descompasso indesejável no mercado produtivo.
O Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos maiores juros reais do mundo, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 15%. O levantamento foi realizado pelo MoneYou. A taxa básica de juros real do Brasil é de 9,53%, atrás apenas da Turquia, com 14,44%.
O Brasil só perde, em todo o mundo, para a Turquia quando se trata de juros reais.
Tendo por base a Selic de 15% e dela extraindo-se a taxa de inflação, ficam 9,53% de juros reais, que terminam sendo uma afronta ao buscador de crédito.
Impondo essa indecência ao pequeno e médio empresário, o BC não apenas dificulta de vida deles, o andamento normal de seus negócios, mas afeta diretamente toda a população, especialmente as camadas de baixa renda, que vêm frustradas suas compras, retraem-se no mercado de consumo, e com isso aumenta a crise das empresas porque eles virtualmente não têm para quem vender.
Está na cara que o Banco Central não se apercebe de que na histórica realidade econômica brasileira, o crédito bancário é a forma que o empreendedor sempre tem para manter sua rotina financeira. Está no perfil desse empresariado que manter satisfatoriamente seu capital de giro, a prática rotineira é buscar financiamento de seus negócios. E quando os juros estão nos níveis içados hoje pelo BC, os negócios dão marcha a ré e os empreendedores mergulham na rotina de não pagar suas dívidas.
É triste essa situação, mas é uma realidade amplamente alertada pelo bom senso, de que a política adotada pelo COPOM é suicida, que levaria, mais cedo ou mais tarde, a esse vexame pelo qual agora o país está passando.
E não se sabe como pequenos e médios empreendedores poderão sair dessa enrascada. Primeiro, porque não se tem à vista qualquer sinal de que o Copom esteja disposto a contrariar a Faria Lima (mercado financeiro onde estão os especuladores que sustentam as decisões do BC), e ter a coragem de baixar essas taxas Selic obscenas. Em segundo lugar, porque os pequenos e médios empreendedores, mesmo com juros nas alturas, necessitam sempre e mais de crédito.
A busca por crédito, por exemplo, em fevereiro deste ano, cresceu nada menos do que 13% na comparação com o mesmo mês de 2024. Em abril, assustados pelo volume das taxas cobradas pelos bancos, a ida ao crédito baixou para 6,3%, mesmo assim um nível muito elevado de procura por financiamento.
E é importante observar que esse universo de que falamos, de micro, pequenas e médias empresas corresponde a 90% de todos os negócios no Brasil.
O mais grave desse quadro é observar que essas desgraças estão acontecendo numa economia que- apesar do jogo contrário feito por alguns poucos detentores do poder econômico-, tem andado num bom caminho, com inflação controlada, dólar em queda, bolsa de valores com seu maior patamar histórico, queda virtuosa do desemprego, PIB subindo, aumento do consumo e da renda, e um governo disposto a fazer investimentos.
Mesmo com todo esse ambiente positivo, o Banco Central tem sido capaz de travar a essência da economia, aquela que está literalmente espalhada nas bases, formada por micro, pequenas e médias empresas, ou seja, afetando a vida, o bem-estar e o futuro de milhões e milhões de brasileiros de menor poder aquisitivo.
Uma verdadeira lástima.
Por José Osmando