Nas últimas décadas, o cenário esportivo brasileiro tem testemunhado uma significativa evolução no tratamento e apoio a mães-atletas de alto rendimento, mudando um paradigma que há muito era considerado um tabu. Tradicionalmente, a maternidade era vista como um impasse na trajetória das esportistas, exigindo delas decisões difíceis, como interromper suas carreiras ou planejar a gravidez de forma a não prejudicar calendários esportivos.
Érica Sena, destaque da marcha atlética, é um exemplo dessa mudança transformadora. Após engravidar em 2021, ela enfrentou o desafio de conciliar o esgotamento emocional e físico da maternidade com os treinos. A realidade de adaptar-se a novas rotinas de sono e performance esportiva revelou-se uma tarefa árdua. Mesmo assim, a determinação de Érica prevaleceu, retornando aos treinos em uma bicicleta estática apenas uma semana após o nascimento do filho e retomando os treinos na pista dois meses depois. Sua experiência foi crucial para que mudanças significativas fossem implementadas no programa Bolsa Atleta, que passou a garantir a manutenção do benefício durante a gestação.
Até 2022, o benefício era suspenso para atletas gestantes, mas intervenções de instituições como o Comitê Olímpico do Brasil (COB) mudaram esse panorama. A senadora Leila Barros, ex-jogadora de vôlei, destacou a importância dessa conquista em fóruns que promovem a igualdade de gênero no esporte, afirmando que as atletas não perderão mais seus direitos ao optar pela maternidade.
Além de Érica, Iziane Marques, ex-jogadora de basquete, celebrou a inclusão de novas regras no edital de 2023 que oferecem suporte contínuo às atletas em gestação ou pós-parto. Isso reforça a ideia de que ser mulher e mãe não deve ser um impedimento para a continuidade na carreira esportiva.
A percepção de que a prática esportiva poderia ser arriscada durante a gestação está cada vez mais desatualizada. Pri Heldes, jogadora de vôlei do Fluminense, desafiou esses conceitos ao continuar competindo durante a gravidez, recebendo apoio e compreensão de sua equipe. As imagens de Pri em quadra grávida durante a Superliga de 2024/2025 viralizaram, destacando positivamente sua história nas redes sociais e inspirando outras atletas e mães.
Exemplos históricos, como Isabel Salgado e Paula Pequeno, que competiram durante a gravidez, servem de inspiração para que outras atletas continuem suas carreiras. O apoio institucional tem se fortalecido, como evidenciado nos últimos Jogos Olímpicos, onde as creches foram introduzidas na Vila Olímpica, oferecendo às atletas mães a possibilidade de manter seus bebês por perto.
Apesar de avanços incontestáveis, Érica Sena ressalta que a luta por direitos iguais e pelo suporte à maternidade no esporte continua. Ela espera que os clubes abram mais espaço para gestantes, garantindo que cada uma possa vivenciar a maternidade de forma plena e sem pressões externas. O progresso é evidente, mas o caminho rumo à igualdade completa ainda demanda esforço e dedicação contínuos.
Com informações do Comitê Olimpico do Brasil
Legenda Foto: Atletas e ex-atletas brasileiras comemoram avanços no suporte a mães-atletas de alto rendimento. Érica Sena, destaque na marcha atlética, foi crucial na revisão das regras do Bolsa Atleta, assegurando benefícios durante a maternidade. Pri Heldes, do Fluminense, é exemplo de continuidade na carreira esportiva durante a gestação, com apoio essencial do clube. As conquistas incluem, pela primeira vez, uma creche na vila olímpica. Apesar dos progressos, há uma luta contínua por mais suporte aos clubes para mães gestantes no esporte.
Foto 1: Erica Sena e filho no pódio, créditos: Reprodução/Instagram.
Foto 2: Pri Heldes jogando grávida contra o Sesi-Bauru, créditos: Mailson Santana/Fluminense FC.