O Comitê Olímpico do Brasil (COB) inaugurou o II Fórum Mulher no Esporte com uma poderosa palestra proferida por Fabi Alvim, bicampeã olímpica de vôlei, na última terça-feira, 15, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Abordando o tema “Além do que se vê”, Fabi convidou o público a mergulhar em uma análise crítica sobre os desafios enfrentados, bem como as vitórias alcançadas pelas mulheres no mundo esportivo. Desde o início de sua palestra, ela alertou os participantes sobre a natureza desconfortável, mas necessária, do diálogo que pretendia fomentar. “Hoje é um dia para ficarmos desconfortáveis, compartilhar e debater”, declarou Fabi, deixando claro seu objetivo de instigar a reflexão sobre as barreiras estruturais e sociais que ainda limitam a participação feminina no esporte.
A ex-jogadora de vôlei compartilhou aspectos de sua própria trajetória, destacando questões de gênero que vivenciou desde a infância. Uma de suas memórias mais sonhadas é da época em que, como a única menina jogando futebol nas ruas com os meninos, percebeu profundamente o estigma de “esporte de menino e de menina”. Este relato pessoal foi utilizado como pano de fundo para discutir estatísticas preocupantes, como o fato de homens terem 26% mais chances de praticar esportes, enquanto meninas e mulheres têm seis vezes mais probabilidade de abandonar a prática esportiva devido à falta de apoio adequado.
Fabi também compartilhou as estratégias que desenvolveu para se destacar em um ambiente predominantemente masculino durante sua carreira no vôlei. Ela mencionou como se oferecia para marcar o placar das partidas, garantindo uma presença contínua nas quadras. Caso faltasse alguém para completar o time, não hesitava em se apresentar, mesmo que suas participações iniciais fossem apenas como “café com leite”, expressão que se refere a um jogador de menor importância em uma partida amistosa.
Outro ponto de destaque na palestra foi o marco representado pelo ouro olímpico conquistado pela equipe masculina brasileira de vôlei em 1992. Este feito despertou um grande interesse pelo esporte e um aumento na oferta de escolinhas, contexto em que Fabi entrou no voleibol. Em 1996, ela já possuía referências femininas fortes como Mireya Luis, atleta cubana tricampeã olímpica, e Shelda, que foi medalhista de prata em duas edições dos Jogos Olímpicos. Ressaltando a importância da representatividade, Fabi citou a célebre frase de Billie Jean King: “Você precisa ver para ser”.
A bicampeã olímpica também discutiu a evolução, embora lenta, do reconhecimento do protagonismo feminino no esporte, tanto por parte da sociedade quanto da imprensa. Exemplificou sua fala com uma manchete de 2004 comparando o desempenho da seleção feminina ao masculino, e contrastou com uma abordagem mais atual que destaca as conquistas femininas nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Fabi celebrou a trajetória e as conquistas das mulheres na arena esportiva, evocando o legado de ícones como Hortência, Isabel Salgado, e Aída dos Santos.
Os dados apresentados por Fabi dados lançam luz sobre a profunda desigualdade ainda presente no esporte. Embora as mulheres representem 52% da população, apenas 4% do conteúdo midiático esportivo é dedicado a elas. Além disso, somente 12% das notícias esportivas são apresentadas por mulheres. A disparidade econômica também é evidente. Em 2020, apenas duas atletas mulheres estavam entre os 100 esportistas mais bem pagos do mundo, e em 2024, nenhuma mulher constava na lista. A presença feminina em posições de liderança técnica, como mostrado por Fabi, é igualmente escassa. Apenas 13% das treinadoras credenciadas nos Jogos Olímpicos são mulheres, sinalizando a urgente necessidade de aumentar a representatividade feminina em todas as esferas do esporte. O discurso de Fabi Alvim foi um chamado apaixonado por igualdade e inclusão, merecendo os aplausos calorosos do público, que reconheceram sua posição como uma figura inspiradora no cenário esportivo feminino.
Com informações do Comitê Olimpico do Brasil
Legenda Foto: Bicampeã olímpica Fabi Alvim inspira e provoca reflexões no II Fórum Mulher no Esporte com a palestra “Além do que se vê”, realizada na Cidade das Artes. (Foto: Helena Barreto/COB)