Na última sexta-feira (22), um debate realizado na Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados destacou a significativa contribuição dos terreiros de candomblé para a segurança alimentar em suas comunidades locais, além de pedir o fim da intolerância religiosa dirigida às religiões de matriz africana. O encontro também discutiu a rica influência dos povos tradicionais de Angola na construção da identidade cultural brasileira.
Mariângela de Mendonça da Silva, conhecida como Mametu Ria Nkise Luandyanzambi, sacerdotisa do terreiro Rompe Mato, ressaltou a importância dos terreiros como espaços de cura e resistência para as comunidades afrodescendentes. Segundo ela, os terreiros funcionam como lares de acolhimento, onde a irmandade é praticada de maneira tangível. “Ao entrar numa casa de candomblé ou num quilombo, você se depara com uma distribuição igualitária de alimentos e espaços, onde todos são acolhidos para a cura”, explicou.
Na mesma linha de pensamento, Eloá Silva de Moraes, coordenadora-geral de Políticas para Comunidades Tradicionais do Ministério da Igualdade Racial, reafirmou a necessidade de apoio público para fortalecer tradições ancestrais. Moraes revelou que o ministério alocou cerca de R$ 1,5 milhão para políticas de segurança alimentar que beneficiarão comunidades afro-brasileiras e povos de terreiro. “As cozinhas de terreiro são naturalmente solidárias, engajadas em diversas iniciativas para combater a fome e promover a segurança alimentar, dado que um terreiro não subsiste sem alimento”, afirmou. Ela também destacou a homenagem prestada às mulheres que conduzem essas cozinhas ancestrais durante o G20 Social.
Outro ponto central do debate foi a defesa da proteção da espiritualidade africana pela deputada Erika Kokay (PT-DF), autora do Projeto de Lei 1279/22, que visa estabelecer um marco legal para os povos tradicionais de matriz africana. Kokay enfatizou que se trata de famílias e comunidades que foram despojadas de suas terras e símbolos sagrados, e que, por isso, precisam de um amparo institucional.
O ativista Tata Ngunzetala complementou a discussão, salientando que a influência cultural dos povos de Angola e outras nações africanas transcende os limites geográficos atuais. “Tradições de povos como os iorubas, entre outros, persistem até hoje no Brasil, apesar dos esforços históricos para apagá-las”, afirmou.
A partir desse diálogo, emerge a urgente necessidade de ações concretas para preservar e fortalecer a rica herança cultural africana, garantindo o respeito e a dignidade das comunidades afrodescendentes no Brasil.
Com informações e fotos da Câmara dos Deputados